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Cultura Cante

Cante já não é só para velhos e até chega a novos palcos

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Cante já não é só para velhos e até chega a novos palcos

Foto: CM Beja

Dez anos depois de se ter tornado património imaterial da humanidade, o cante alentejano continua a "alimentar" a vida cultural de muitas povoações no Alentejo, mas já não é só para velhos e até chega a novos palcos. “Se formos correr aí rua acima, podemos ouvir cantar na rua, na taberna. O cante aqui em Serpa é muito apreciado”, conta Miguel Lampreia, um dos membros mais novos do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa.

Foi assim, a cantar com “malta mais nova”, aos fins de semana, nas tabernas, que Miguel, de 29 anos, começou a ligação ao cante alentejano e acabou por ingressar no grupo há cerca de quatro anos, juntamente com “três ou quatro amigos”.

Ainda que com menos regularidade do que noutros tempos, o ‘ritual’ nas tabernas também acontece em Vila Nova de São Bento, a cerca de 20 quilómetros da sede de concelho, atesta à Lusa Cristóvão Coelho, do Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento.

“Se eu agora quiser começar uma moda, eles não me deixam ficar sozinho na moda e vão acompanhar-me”, prossegue António Silva, do mesmo grupo, enquanto convive com outros elementos da formação, entre copos e petiscos, no bar da sede do Clube Atlético Aldenovense.

Eduardo Mestre, de 22 anos, entrou para o Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento há poucos meses, mas diz à Lusa que sempre cantou com os avós nas tabernas da aldeia vizinha de Vale de Vargo.

“Ainda acontece, na rotina diária no final do trabalho, a junção com os amigos, ao final da tarde. E um bocadinho de conversa puxa sempre um copinho e cante, que é nossa expressão do alívio do dia-a-dia e do ‘stress’”, relata.

António Silva é um dos responsáveis da comissão que gere os destinos deste grupo da Vila Nova de São Bento, fundado há 38 anos, constituído atualmente por 34 homens e que manteve o nome, mesmo que a povoação tenha sido elevada a vila em 1988.

As mudanças após a distinção da UNESCO, há 10 anos, foram “sem dúvida nenhuma para melhor” e um dos exemplos foi a “subida extraordinária da formação de grupos”, tanto de adultos, como de crianças, salienta.

Mas esse efeito da classificação como Património Cultural Imaterial da Humanidade, observa, durou pouco tempo e “os novos grupos praticamente desapareceram” ou originaram outros “mais pequenos ou instrumentais”.

“São as crianças da escola que nós, os grupos seniores, vamos buscar para cantarem connosco”, pelo que é necessário “mais dinamismo do cante jovem e juvenil”, sobretudo nas escolas. Caso contrário, “o futuro não é nada risonho”, defende.

Segundo António Silva, o ‘selo’ da UNESCO também deu mais importância e reconhecimento ao cante alentejano, com grupos a atuar por todo o país e até no estrangeiro e outros a subirem ao palco ou a gravarem discos com artistas profissionais.

O cante alentejano, canto coletivo sem instrumentos, tornou-se Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 27 de novembro de 2014. A distinção surgiu na sequência de uma candidatura apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.


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