“Embora por vezes designado como porco preto, a verdadeira designação é esta: “porco de raça alentejana”, já que porcos pretos podem ser vários, que não têm as características únicas deste porco alentejano” chama a atenção o mesmo investigador da academia alentejana.
O investigador desafia a conhecer mais sobre o porco de raça alentejana, a sua fileira de produção e as suas qualidades em sete tópicos que considera serem os fundamentais:
O porco alentejano criado no montado, descendente doméstico do javali mediterrânico, tinha grande importância já nos tempos de domínio Romano na Península Ibérica, e há relatos escritos dessa época sobre a sua produção e consumo. Já na época, os produtos transformados como os presuntos e enchidos eram caros, e essencialmente consumidos pelas classes altas da sociedade.
A produção e consumo de porco de raça alentejana resistiu ao período de ocupação árabe e atingiu o apogeu no século XIX e na primeira metade do século XX, em que mais de 50 por cento da carne suína consumida em Portugal era proveniente de montados alentejanos.
O declínio na segunda metade do século XX, que quase levou à extinção do porco alentejano, foi determinado por muitos fatores externos. Salientam-se a diminuição da área de montado, para intensificação da agricultura, falta de mão-de-obra e despovoamento da região, mudança de hábitos alimentares fruto das campanhas contra as gorduras de origem animal, intensificação da suinicultura “sem terra” com uso de raças magras e produtivas, e, por fim, pela Peste Suína Africana.
Nos finais do século XX assistiu-se a um ressurgimento do porco alentejano impulsionado pela vontade e interesse dos criadores “resistentes”; pelos consumidores, descontentes com as baixas qualidades organoléticas da carne da produção intensiva; pela opinião pública em geral, descontente com as consequências ligadas ao bem-estar animal e ambientais da suinicultura “sem terra”; e as entidades públicas e académicos apostados em recuperar uma raça e uma fileira de produção que começava também então a ser apoiada efetivamente pela União Europeia.
A produção do porco alentejano está ligada ao território e é sustentável, na medida em que são aproveitados recursos alimentares renováveis, mantêm o montado não afetando nem a sua biodiversidade, nem a regeneração do coberto arbóreo, suporta atividades económicas localizadas de elevado valor acrescentado ligadas à transformação do produto, e preserva uma cultura ancestral ligada à produção e transformação, contribuindo assim para a valorização de áreas desfavorecidas da Europa.
O sistema de produção do porco alentejano é em Portugal o que resulta em maior número de produtos com proteções europeias (5 DOP e 23 IGP). Implica a emblemática “Montanheira”, período de engorda em pastoreio nos montados de azinho e sobro no outono e inverno. Cada porco pode chegar a comer cerca de 10 quilos de bolota e 2 quilos de erva por dia. É o animal que mais eficientemente transforma os alimentos que ingere em substâncias nutritivas utilizáveis pelo Homem.
As qualidades organoléticas da carne e produtos transformados são conhecidas e valorizadas pelo interesse gastronómico. Está também comprovado que o consumo moderado desta carne e gordura monoinsaturada contribui favoravelmente para a regulação do colesterol, com consequências benéficas na prevenção das doenças cardiovasculares.
Concluindo, a produção do porco de raça alentejana, o Rei do Montado é sustentável, favorecendo a integridade e a rentabilidade do seu “Reino”, dá origem a produtos alimentares de reconhecida qualidade sensorial e dietética e favorece o desenvolvimento económico e cultural do montado.
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