O Governo e a guerra
O
23.º Governo constitucional do País entra em funções amanhã,
quarta-feira, 30.
Na avaliação de governos, novos e velhos, o essencial são os seus programas e não os nomes dos ministros ou, muito menos, as irritações do Presidente da República. Mas, a julgar pela composição do Executivo liderado por António Costa, o que se prevê é mais do mesmo. Com a maioria absoluta do PS, a tendência será para a continuidade das políticas de direita.
Há um factor novo: desde que o PS, com cumplicidades ao mais alto nível, provocou de forma calculista a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas (sem que a Constituição a tal obrigasse); e desde que, inesperadamente, os socialistas as venceram com maioria absoluta, a situação internacional mudou de maneira radical com o rebentar da guerra na Europa.
O novo contexto causará enormes problemas à escala global, incluindo na União Europeia.
A par das catastróficas consequências directas da guerra na Ucrânia – milhares de vítimas, destruição de infra-estruturas cruciais, milhões de refugiados e deslocados –, o conflito levou a que os Estados Unidos da América, a NATO e a União Europeia obrigassem os países europeus a aumentar as despesas militares (pelo menos até 2% do PIB) e impusessem pesadas sanções económicas, financeiras, diplomáticas e até culturais e desportivas a Moscovo, cujos efeitos vão reflectir-se também em cada membro da União Europeia.
A confirmar as dificuldades causadas pelo ricochete das sanções impostas pelo Ocidente à Rússia –, o Banco de Portugal actualizou há dias as estimativas (em relação às de Dezembro) do crescimento do PIB português para este ano de 5,8% para 4,9%. Já as previsões da inflação em 2022 passaram de 1,8% para 4%. Mas, num cenário adverso, se a guerra continuar, o banco central admite que o PIB cresça apenas 3,6% e a inflação suba para 5,9%.
Frustrando as expectativas de uma paz a curto prazo, a recente visita do Presidente Biden à Europa parece apontar, de acordo com especialistas militares, para o prolongamento do conflito. Com uma guerra longe das suas fronteiras, os EUA ficam assim mais tempo para vender o seu gás liquefeito e armas aos europeus e testemunhar o desgaste de um rival estratégico, a Rússia.
Com a escalada da guerra, pois, o País enfrentará maiores problemas, que recairão sobre os do costume – os trabalhadores e os sectores sociais mais frágeis.
O Governo, para já, vai ter de enfrentar as sequelas sociais e económicas de dois anos de pandemia de Covid-19; contrariar os efeitos da seca – amenizados pelas chuvas das últimas semanas; e, sobretudo, tentar travar a subida dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia para conter a escalada inflacionista.
Em suma, uma boa governação já não dependerá só das opções políticas do PS mas também do fim da guerra, da conquista o mais cedo possível da paz.
Carlos Lopes Pereira
28 de Março de 2022
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