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Mediação familiar continua a ser “tabu” no Alentejo

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Mediação familiar continua a ser “tabu” no Alentejo

Apesar da taxa de sucesso em outras zonas do País onde as famílias recorrem a este tipo de apoio, no Alentejo a mediação familiar continua a não ser uma prioridade nos processos de divórcio ou na construção de acordos de responsabilidades parentais.

Vera Fernandes, mediadora familiar desde 2009, que exerce funções no sistema privado, na empresa Beja Mediar, e no sistema público desde 2020, na Direção-Geral de Política de Justiça (DGPJ), explica o que é a mediação familiar, muitas vezes confundida com terapia familiar.

“Ao contrário do que muita gente pensa não é o mesmo que terapia familiar, não tem nada a ver”, começa por referir Vera Fernandes, explicando que a mediação é “um meio alternativo de resolução de litígios e é um meio extra judicial”.

Qualquer cidadão pode recorrer a mediação, desde que tenha pré disposição para participar num processo de mediação familiar. Explicita que no setor privado basta deslocar-se a um gabinete, no sistema público, os cidadãos podem dirigir-se ao website da Direção-Geral de Política de Justiça e preencher o formulário disponibilizado para depois serem contactados por técnicos, seguindo-se o encaminhamento para o mediador que está afeto à área onde reside.

A mediação serve para pessoas que estejam num processo de divórcio, morada de família, para para regular as responsabilidades parentais dos filhos ou para tratar de incumprimentos e alterações a estas obrigações.

Relativamente a custos, a mediadora esclarece que no sistema público a mediação terá um custo de 50 euros para cada parte, no entanto, se a pessoa em causa pedir apoio judiciário não haverá qualquer tipo de custo. No caso das partes serem encaminhadas pelos tribunais o serviço é igualmente gratuito.

No que diz respeito à lacuna identificada pela CPCJ de Beja, no início de setembro, de faltar a prática de mediação familiar em ex-casais, Vera Fernandes assume que de facto esta é uma das suas “lutas” nos últimos anos. Existe esta falta e considera que se ambas as partes tiverem oportunidade de decidir o futuro das suas vidas e dos seus filhos, os casos de sucesso seriam muito mais do que algo que lhes seja imposto, seja ao nível das Comissões, ou dos tribunais.

Neste sentido, destaca que é condição que a mediação familiar não seja imposta a nenhuma das partes e que para haver sucesso a voluntariedade para o processo é fundamental.

Lembramos que Maria de Jesus Ramires, ex-presidente da CPCJ de Beja, referiu à Voz da Planície que “quando um casal se separa utiliza os filhos nas suas divergências, por vezes uma mediação familiar ou terapia poderia resolver muitos assuntos e as crianças não chegavam à Comissão”.

No Alentejo, em comparação com o resto do País, a mediação é quase nula, não se recorre a este tipo de ajuda. Considera que ainda é “tabu” recorrer à mediação, enquanto que noutros pontos do País, dando o exemplo de Lisboa/Porto, é bastante recorrente as famílias num processo de divórcio e de divergências recorrerem à mediação familiar.

Na região “é preciso desbravar caminho” neste sentido e quando começar a ser mais frequente o recurso à mediação, Vera Fernandes acredita que irá fazer a diferença nas famílias alentejanas.

Reforça a ideia de que é preciso que as CPCJ consigam investir na mediação e nos mediadores que existem no Alentejo, assim como os próprios tribunais devem recorrer aos mediadores que estão formados e habilitados para trabalhar com as famílias e para ajudar as crianças, sobretudo para que tenham um futuro “mais feliz”.

Como mediadora que já trabalhou com famílias de vários pontos de Portugal, afirma que a taxa de sucesso é grande, os processos são curtos, com o prazo máximo de três meses aproximadamente.

Inicialmente, as pessoas ou os tribunais pedem mediação e as partes passam sempre por uma fase de “pré-mediação”, para verificar se as pessoas querem iniciar essa procedimento de forma voluntária, explicar os princípios, os custos (quando se aplicam), e documentos inerentes ao processo.

Após essa primeira fase, são realizadas diversas sessões até se alcançar um consenso entre ambas as partes, que culminam com a assinatura de um documento que dá por finalizado o processo.

Vera Fernandes, que integra atualmente o quadro do Instituto CRIAP como professora na Especialização Avançada em Mediação Familiar, sublinha que é necessário dar “uma oportunidade à mediação, na construção da harmonia das famílias e sobretudo das crianças e jovens, e da sua felicidade e crescimento”.

Considera que o mais importante é termos os mais novos felizes e famílias em consonância porque a “comunicação é fundamental e está presente em tudo na nossa vida”. Se houver "alguém que possa facilitar esse processo de comunicação, neste caso o mediador, poderá fazer toda a diferença".


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