A Direção-Geral das Artes (DGArtes) divulgou na segunda-feira à noite os resultados provisórios do concurso na área do Teatro, no qual foram propostas para apoio, na modalidade quadrienal, 48 entidades, das 55 consideradas elegíveis.
Entre as sete não propostas estão a Lendias d’Encantar, que conseguiu uma pontuação final de 75,21%, menos três décimas que a última entidade proposta para apoio, e a Jangada, que obteve 74,37% de pontuação final.
Ambas vão apresentar contestação da decisão em audiência de interessados, de acordo com representantes das duas entidades, em declarações à Lusa.
O diretor artístico da companhia de Beja, António Revez, defende que “houve uma injustiça por parte do júri”.
“O júri fez análise defeituosa da nossa candidatura”, afirmou o responsável à Lusa, considerando que, entre outras questões, “foram desvalorizadas” atividades da companhia, nomeadamente relacionadas com a internacionalização.
Segundo o diretor artístico da Lendias d’Encantar, a companhia alentejana tem “cumprido sempre os planos de atividades” apresentados e conseguido manter um apoio regular desde 2014/2015.
“O nosso plano era interessante, principalmente para a região onde estamos inseridos, que é o Alentejo, com a carência de oferta cultural e artística que tem”, sublinhou António Revez.
Sem este apoio, acrescentou, a companhia terá que acabar com “um dos únicos festivais internacionais que é feito na região”, o Festival Internacional de Teatro do Alentejo, e estão em risco os “11 postos de trabalho” que possui.
Já no caso da Jangada, “companhia com mais de 20 anos” e “a única na região Tâmega e Sousa”, a falta do apoio da DGArtes pode pôr em causa a sua continuação.
“[A manter-se a decisão,] a única solução que nos resta é a companhia fechar”, afirmou Ana Luísa Fernandes, produtora da Jangada, em declarações à Lusa.
A Jangada, que surgiu em 1999 e recebe apoio da DGArtes desde 2004, tem uma equipa de nove elementos efetivos.
Ana Luísa Fernandes lembrou que este ano a companhia apresentou 92 espetáculos, mas com esta “notícia catastrófica”: “não sabemos o que vamos fazer no próximo ano”.
“Temos coisas contratualizadas que deixamos de conseguir manter”, disse.
Tal como a Lendias D’Encantar e a Jangada, também a Pé de Vento, de Matosinhos, ficou fora dos apoios quadrienais de Teatro, apesar de ter sido considerada elegível, com uma pontuação final de 59,92%.
Caso a decisão se mantenha, após o período de audiência de interessados, a Pé de Vento terá que “liquidar” se a autarquia “não ajudar” financeiramente a companhia.
Em declarações à Lusa, o diretor da Pé de Vento, João Luíz, lamentou o “sistema de classificação” de acesso ao Programa de Apoio Sustentado 2023-2026 na área do Teatro, salientando que a companhia tem sido contemplada com aquele apoio “há vinte anos consecutivos”.
“Desde 1996 que recebemos este apoio, altura em que abrimos o teatro da Vilarinha [no Porto]. Não entendo porque não vamos receber agora, não percebo o sistema de pontuação que pontua à décima em determinados itens”, afirmou o responsável.
Questionado sobre se a atividade da companhia, fundada em 1978, na cidade do Porto, e que se mudou recentemente para Matosinhos, está em risco, João Luíz admitiu que sim: “Liquidamos. Vamos pedir ajuda à câmara mas se a câmara não nos ajudar, liquidamos”, disse.
João Luíz adiantou que “não vale a pena estar a pensar em restruturar a companhia” porque, explicou, “a Pé de Vento já trabalha com apenas com o pessoal necessário e a atividade não é compatível com apoios pontuais”.
Aquela companhia de teatro, reconhecida em 2013 como Instituição de Utilidade Pública, dá trabalho a cerca de 10 pessoas ao longo do ano, entre atores, técnicos de luz e som, músicos, entre outros profissionais.
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