Em declarações à Lusa, o investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa adiantou que concorda com o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa, que admitiu recentemente que a pandemia pode acabar em breve nesse continente.
De acordo com Pedro Simas, no caso de Portugal, que tem cerca de 90% da população com a vacinação completa contra a covid-19, os números dos cuidados intensivos mantêm-se “muito estáveis”, o que prova a eficácia da vacina contra a doença grave e morte.
“É muito importante que o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge continue a monitorizar as variantes, mas não é expectável que apareça uma variante que destrua a nossa imunidade protetora. Em princípio, isso não vai acontecer”, disse Pedro Simas, para quem “Portugal já entrou em endemia há bastante tempo”.
Contudo, o infeciologista Fernando Maltez advertiu que “só quando todas as pessoas estiverem vacinadas e o vírus SARS-Cov-2 deixar de se replicar se passará à fase de endemia”, considerando que atualmente a imunidade de grupo “é uma miragem”.
“Nós não entramos ainda nesta fase [endemia]. Nós estamos a viver uma fase em que aquela tal imunidade de grupo é uma miragem”, afirmou à agência Lusa o diretor do serviço de Doenças Infeciosas do Hospital Curry Cabral, que faz parte do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).
Para Fernando Maltez, “é até um bocadinho perigoso” começar a falar já de endemia, afirmando que é preciso “perceber bem” o que são doenças endémicas, dando como exemplos o dengue no Brasil e a gripe.
São doenças que estão controladas e em que todos os anos se espera um ‘x’ número de casos, embora periodicamente possa aparecer um maior número de casos, e se toma uma vacina, explicou.
“A própria infeção quando a apanhamos não garante uma imunidade protetora duradoura e, portanto, nós estamos perante uma doença que tem que ser controlada, vacinando a população toda”, salientou.
O infeciologista defendeu que é preciso estar “muito atento” à emergência de novas variantes, com “um controle rigoroso” das fronteiras e fazer “uma sequenciação genómica criteriosa para as identificar em tempo útil”.
Disse ser fundamental que toda a população esteja vacinada e que “as crianças façam parte desse plano global”, realçando também a importância de “não relaxar as medidas não farmacológicas” enquanto não se atingir uma taxa de vacinação de 100%.
“A vacinação tem se ser feita à escala global tem que ser alargada, nós temos que estar preparados com vacinas provavelmente de segunda e terceira geração que nos deem cobertura para estas variantes que vem com características imprevisíveis”, salientou.
“Mas enquanto não estivermos todos vacinados, enquanto o vírus continuar a replicar-se em pessoas que não estão vacinadas, corremos o risco de ter variantes que podem ter características de maior gravidade, de maior transmissibilidade, de maior letalidade e pôr em risco tudo aquilo que está para trás”, alertou.
“Quando tivermos, eventualmente, um antivírico eficaz que iniba diretamente a replicação do vírus e respeitando essas medidas não farmacológicas e mantendo esta testagem massiva é provável então que entremos nessa fase endémica que nos obriga periodicamente fazer um reforço vacinal para manter esse estado de endemicidade”, sustentou Fernando Maltez. Mas, para isso, “era desejável” que todas estas variáveis fossem mantidas ao nível global, não só em Portugal e não só na região europeia.
Rádio Voz da Planície/Lusa
© 2024 Rádio Voz da Planície - 104.5FM - Beja | Todos os direitos reservados. | by pauloamc.com