Faz falta é resolver os problemas
1.
António Costa retomou hoje a sua agenda política presencial e
anunciou que vai reunir-se com sectores da sociedade civil e com
partidos, a preparar o próximo ciclo político.
A partir de amanhã recebe representantes de áreas da saúde, educação, economia, ciência e trabalho. Para a semana será a vez dos partidos parlamentares. Quanto à formação do novo Governo, o processo, com prazos legais a cumprir, deverá ficar concluído em finais de Fevereiro.
2. Registe-se, desde já, a alegria de banqueiros e patrões, manifestada publicamente, pela vitória do PS nas eleições de 30 de Janeiro, com maioria absoluta.
E sublinhe-se, também, a hipocrisia da maioria dos comentadores de serviço nos diferentes meios da comunicação social dominante: dias antes da votação, António Costa era um político “cansado”, “sem ideias”, derrotado; agora, vitorioso, surge como herdeiro de Mário Soares, é um governante «brilhante» que conseguiu livrar-se dos “empecilhos” da Esquerda. Os mesmos que ontem o atacavam, apontam-lhe hoje o caminho, já não de um alto cargo na União Europeia, mas de Belém.
3. Certo é que Costa tem quase tudo a seu favor: além da maioria qualificada para governar à vontade, a pandemia de Covid-19 parece estar em vias de ser controlada, as fronteiras reabrem-se ao turismo, a economia reanima-se. E há, sobretudo, a famosa “bazuca” – os milhares de milhões de euros que virão da União Europeia e que (poucos o dizem) os portugueses terão de pagar mais tarde.
O Presidente da República, com influência diminuída pelos resultados nas urnas, parece preocupado com o controlo dos investimentos prometidos no quadro dos tais fundos europeus. Marcelo reapareceu ontem em público para receber os bicampeões europeus de futsal, novos ídolos populares, e, completamente a despropósito, enviou recados ao futuro Governo. Avisou que o Plano de Recuperação e Resiliência, com os dinheiros da “bazuca”, “não é o paraíso ao virar da esquina”. E acrescentou, em linguagem futebolística, que “tudo depende do que dele se fizer, sendo certo que há dois desfechos possíveis: ganhar ou perder”.
4. Apesar da maioria absoluta, do bom desempenho da economia, dos fundos da União Europeia, os desafios que o próximo Governo enfrenta são enormes e o seu êxito dependerá, sobretudo, das suas opções políticas, das suas alianças, dos interesses que defender.
O caderno de encargos é amplo.
A curto prazo, no plano nacional, há a gestão da crise pandémica, a luta contra a seca que atinge o País, a contenção dos preços da eletricidade e dos combustíveis, a falta crescente de médicos de família e outros, o cumprimento das promessas de campanha…
E há, claro, os velhos problemas estruturais que é necessário solucionar, que é possível solucionar com vontade política: os baixos salários, pensões e reformas; a precariedade laboral; a degradação dos serviços públicos; a falta de meios do Serviço Nacional de Saúde; as dificuldades no acesso à habitação condigna; os frágeis apoios sociais; a defesa da economia nacional. Serão precisas, em suma, políticas para desenvolver o País, para construir um Portugal menos desigual, mais justo.
No plano regional e no distrito de Beja, em particular, o novo Governo será avaliado em função da sua vontade em avançar com a regionalização, em resolver as carências nos sectores da saúde, das acessibilidades, da crise demográfica, do ambiente. Há muito que está feita a inventariação dos problemas do Alentejo – o que faz falta é resolvê-los.
Carlos Lopes Pereira
8 de Fevereiro de 2022
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