Não à guerra!
Diz-se, e bem, que a primeira vítima de uma guerra é a verdade.
Ainda não tinha começado a guerra na Ucrânia e já a democrática e libérrima União Europeia proibia em todo o seu espaço o acesso a televisões e agências de notícias russas, como a RT e a Sputnik, depois completamente banidas.
Moscovo retaliou e foram silenciados os correspondentes da Voz da América, da Voz da Alemanha, da BBC, da CNN – tudo vozes com a isenção e o pluralismo que se conhecem.
Hoje, as notícias que nos chegam dos combates no Leste da Europa, quase duas semanas após deflagrarem, são sobretudo ecos de uma outra guerra – a da propaganda. Propaganda que, em Portugal, a generalidade dos sítios web, televisões, rádios e jornais vende como se fosse a verdade única, sem a mínima preocupação de cumprir as regras básicas do jornalismo, numa campanha de desinformação e manipulação ainda mais grosseira do que a habitual.
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Não se sabe quando nem como vai acabar esta guerra, que nunca devia ter começado. Mas já se pode vislumbrar quem com ela ganha e quem perde.
Perdem com a guerra, antes de tudo, os povos da Ucrânia e da Rússia, com os milhares de mortos e feridos dos dois lados, com a destruição de infra-estruturas, com a deslocação de populações, com o recuo no desenvolvimento das suas economias. Os russos, além disso tudo, sofrem desde já os efeitos das draconianas sanções económicas impostas pelo Ocidente.
Perdem os povos dos países do Leste europeu, que recebem nestes dias centenas de milhares de refugiados e que correm o risco de se verem envolvidos directamente na guerra.
Perdem também os povos dos países da União Europeia, como o povo português. Com as consequências directas da guerra e com os efeitos das sanções económicas aplicadas à Rússia – na verdade, um autêntico tiro pela culatra. Os preços do petróleo e do gás sobem vertiginosamente, registam-se já aumentos nos preços dos combustíveis, da electricidade, dos cereais, dos alimentos em geral. Com a subida do preço crude, sectores como o do turismo e o dos transportes vão ser atingidos, tudo isso depois de dois anos económicos condicionados pela pandemia da Covid-19.
Com a guerra, a União Europeia perde, e muito. Bruxelas mostrou a sua impotência militar e agravou a sua dependência total dos Estados Unidos e da NATO. Em particular a Alemanha, a primeira potência económica europeia, que se vê humilhada por Washington: apesar da sua enorme dependência energética em relação à Rússia, viu-se obrigada a renunciar ao projecto do gasoduto Nord Stream 2, através do qual receberia mais gás russo e mais barato.
E quem ganha com a guerra na Ucrânia?
Os Estados Unidos, claro, designadamente o seu governo e o seu complexo militar-industrial: o presidente Biden precisava da velha receita de uma guerra – longe das fronteiras norte-americanas – para fazer subir a sua popularidade; a economia dos EUA, atingida pelos efeitos da pandemia, será reactivada com a venda de armamento, também uma receita habitual da grande potência capitalista; e com a venda de gás liquefeito à Alemanha e a outros países europeus. Além de tudo isso, e não é pouco, os EUA, que, com a sua política de domínio mundial e de submissão dos povos, provocaram esta guerra, vêem a Rússia e a União Europeia, adversários estratégicos, mais enfraquecidas.
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Todas as devastadoras consequências da guerra à escala mundial serão pagas pelos povos e, em cada país, em primeiro lugar, pelos trabalhadores, pelos sectores sociais mais frágeis.
Daí a premência de continuarmos a luta pela Paz, de dizer não à guerra. Também em Portugal, que espera ainda a repetição no círculo da Europa das eleições legislativas. E onde, com as trágicas consequências do conflito, o próximo Governo, de maioria absoluta do PS, não vai trazer, infelizmente, por acrescidas razões, o prometido mar de rosas.
Carlos Lopes Pereira
8 de Março de 2022
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