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Opinião

"Avenida Vasco da Gama em Beja"

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"Avenida Vasco da Gama em Beja"

Foto: Rádio Voz da Planície

"Ao subir recorrentemente a Avenida Vasco da Gama em Beja, aflui à minha memória várias recordações. Quando vim prestar provas de admissão para ingressar no ensino técnico, era obrigatório passarmos por um crivo designado por exame de admissão, diga-se dispensável, pois, que eu tenha conhecimento ninguém foi então rejeitado por este processo selectivo", escreve Manuel Camacho, engenheiro do ambiente, que pode ler e ouvir aqui.

"Esta avenida que mais se assemelha a uma alameda devido ao seu cuidado arranjo, então, situou-se no meu trajecto entre a Escola Industrial e Comercial de Beja e a estação de caminhos-de-ferro, local de embarque para a minha terra.

Neste circuito, que a minha memória ainda é possível registar, e como recém descobridor da “grande” cidade, encantou-me com alguns registos que hoje revelados se podem considerar banais. No começo desta incursão, deu para ver uma obra inimaginável aos meus horizontes, as recéns inauguradas Piscinas Municipais, pois ali, e como era possível franquear as suas portas, eu e a minha mãe disfrutámos do enquadramento desta obra memorável e talvez iniciática de uma realidade que só muitos anos mais tarde tiveram lugar neste território de grandes e sofredores estios. Prosseguindo a nossa caminhada tivemos como aparição do recém-construído e já em funcionamento, o Mercado Municipal com o seu frenesim inigualável, fronteiro do Seminário (local de uma possível ingressão para uma nova etapa, se acaso vingasse um chumbo no aludido exame). Não seria uma tragédia, como ficou demonstrado por milhares de jovens pobres que tiveram esta saída para a sua formação, como o caso do célebre escritor Aquilino Ribeiro que por ali passou. Naturalmente, que para iniciarmos a nossa descida para a estação, era obrigatório atravessar o Jardim Público e aí mais uma vez fomos convocados por algumas surpresas. Um espaço bem cuidado e imagine-se, com um lago, onde jovens com as suas hilariantes risadas navegavam, imaginando aventuras em empresas esforçadas, que nos contagiavam com a sua natural alegria. Este espaço ainda tinha uma mostra de animais em cativeiro que era a delícia das crianças visitantes, para além de um ringue de patinagem que para nós na nossa terra era uma miragem. Mas para mim, a pérola deste jardim era (é) o seu formoso coreto de arquitectura assente na arte do ferro forjado com apontamentos de art nouveau, que transportava o nosso imaginário para os possíveis concertos que certamente nele eram realizados, já que, para nós, os mesmos eram uma miragem (só dez anos mais tarde, Aljustrel voltou a ter a sua filarmónica, mas sem coreto que foi eliminado criminosamente no ido ano de 1958).

Mas esta Avenida ainda encerra algumas curiosidades bem marcantes. Mais tarde, ainda assisti no velhinho Estádio Flávio dos Santos a alguns dérbis entre o emblemático Desportivo de Beja e o nosso Sport Mineiro, onde a disputa entre estes dois emblemas era sempre levada muito a sério.

Quis o destino, que justamente nesta artéria, eu iniciei a minha actividade profissional no Gabinete de Apoio Técnico, no palacete da extinta Junta Distrital, pois foi ali que trilhei um período fértil no trajecto da minha evolução profissional e também na construção de sólidas amizades.

Hoje, quando esporadicamente desfruto prazenteiramente ao fim da tarde a esplanada do Pulo do Lobo (um dos melhores restaurantes de Beja), vêm-me à memória estes e outros registos de uma cidade que me marcou indelevelmente e que fez parte da minha formação escolar inicial e também da minha realização profissional, assim como, orgulhosamente como autarca deste concelho vizinho."

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