Estimando que, na operação desta quarta-feira, poderão ter sido resgatadas “mais de 100 pessoas migrantes”, o dirigente da associação Solidariedade Imigrante (Solim), Alberto Matos, argumentou à agência Lusa que a Polícia Judiciária (PJ) terá detido “alguma arraia miúda” e “alguma arraia média” como suspeitos.
“Os mandantes destas redes, muitas vezes, estão nos países de origem ou estão em bons escritórios por essa Europa fora, de colarinho branco. Estamos a falar também de crime financeiro de colarinho branco, os chefes estão fora disto, não estão no terreno, não sujam as mãos”, disse.
O dirigente da Solim aludia à operação policial desenvolvida pela PJ, na quarta-feira, “contra formas de contratação ilícita e exploração de mão-de-obra imigrante nas explorações agrícolas”.
Esta operação, que envolveu “cerca de 400 inspetores” da PJ, abrangeu 65 buscas domiciliárias e não domiciliárias, em diversos locais do distrito de Beja, e permitiu deter 35 pessoas de uma rede criminosa que contratava trabalhadores estrangeiros para a agricultura no Baixo Alentejo, segundo a polícia de investigação criminal.
Para Alberto Matos, esta operação foi “oportuna” e é de “saudar”. Contudo, este caso concreto, a PJ “anda atrás do prejuízo”, acrescentou.
“E o prejuízo vem de longe, eu não diria que é a exceção, é a regra desta agroindústria das monoculturas que nós temos, que não emprega mão-de-obra diretamente e que recorre sistematicamente a este tipo de engajadores mais ou menos mafiosos”, criticou.
O dirigente da Solim argumentou que “os donos disto tudo, os donos da terra, não têm responsabilidade nenhuma, dizem eles, porque nem trabalhadores têm, portanto lavam as mãos. Nem é como Pilatos, é pior”.
Lamentando que este tipo de redes estejam já espalhadas “um pouco por todo o país”, mas em particular no Alentejo, Alberto Matos defendeu que o combate ao crime deve ser intensificado, nomeadamente “proibindo este tipo de subempreitadas selvagens”.
Apontando o dedo ao “capitalismo transnacional”, que considera estar por trás deste tipo de redes, Alberto Matos disse esperar agora que seja atribuída às vitimas autorização de residência.
“Eram mais de 100 trabalhadores que foram levados para Beja, esperemos que lhes seja atribuída a autorização de residência como vítimas de tráfico humano, porque o são, e que as vitimas sejam protegidas e os criminosos sejam castigados”, defendeu.
O dirigente da Solim defendeu ainda uma alteração à lei, acrescentando que, neste tipo de casos, os agricultores devem ser também responsabilizados.
“Indiretamente há uma lei da responsabilidade solidária, mas, depois, só é exercida se alguém for condenado com trânsito em julgado [da sentença ou acórdão]. Vamos ver se agora vai haver”, disse.
Para o dirigente da Solim “era necessário” alterar a lei, porque os agricultores que utilizam esta mão-de-obra direta ou indiretamente, “têm de ser responsabilizados desde o início”, pois quando há crime devem ser “co-réus, juntamente com estes mafiosos”.
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