Texto baseado em declarações de Ana Markl / fotografia e capa: Silly / DR
A voz delicada pode levar a crer que flutua, mas a profundidade da sua partilha leva-nos num mergulho pela música de Silly. O nome artístico não esconde, mas revela: Silly é Maria Bentes, em toda a sua escrita francamente autobiográfica. Com uma história pessoal feita de mudanças, a artista nasceu nos Açores, mudou-se para Serpa e assentou em Lisboa. Começámos a ouvir falar dela em 2020, com canções como "Além" e "Intencionalmente". Em 2021, lançou o EP de estreia, "Viver Sensivelmente", e no final do ano seguinte, surgiu com uma nova canção: "Água Doce".
Desde o verão passado que a artista está entregue de corpo e alma ao desafio de criar "Miguela", o primeiro longa duração cujo nome abre um portal para o passado: é o nome que a mãe gostaria de lhe ter dado, apesar de se ter resignado ao mais parecido que as convenções lhe permitiram, Maria Miguel. Depois de três singles já revelados, este álbum leva-nos numa viagem altamente intimista, onde Silly procura algumas respostas para as suas inquietações do presente: qual o seu lugar? Qual o caminho até lá? E o medo será travão ou motor dessa viagem? No entanto, nada disso a bloqueia criativamente, pelo contrário.
Não se deixem enganar pela timidez e poucas palavras em palco, a paixão pela música permite-lhe transformar as dúvidas em matéria-prima - e isso requer uma confiança invejável. É possível que a solidez desta estreia se explique pela sua vontade de aprender e de ser artisticamente autónoma. Entre a pop intimista e R&B mais atmosférico e futurista, a sua composição assenta nos alicerces do ensino clássico do piano e da guitarra, mas o gosto de Silly pelo hip hop está bem presente nos arranjos, na cadência e nos jogos de palavras mais pulsantes. Todas estas referências estão bem vincadas em "Solitude" mas Silly não gosta de se prender a sítios nem géneros. Encontra ainda referências no jazz de forma bem declarada em "Herança" e na Bossa Nova em "Vento Forte", a fechar em comovente beleza. Entre processos eletrónicos e uma forte componente orquestral, bem como a própria maturidade e evolução de Silly resultam num disco elaborado e profundamente honesto.
"Miguela" conta ainda com a exímia produção de Fred Ferreira em estúdio e com a sua mestria em palco. Este sábado, 10 de Fevereiro, no Pequeno Auditório do CCB, em Lisboa, apresentam o novo álbum frente a frente, e contam ainda com a participação especial de David Jacinto (TV Rural) e Joana Correia (Violoncelo), Clara Gomes (Primeiro Violino), João Paulo Gaspar (Viola) e Francisco Ramos (Segundo Violino). Os bilhetes estão disponíveis no CCB, Ticketline e locais habituais.
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