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"Mãe" é o novo disco de Cristina Branco

"Mãe" é o novo disco de Cristina Branco

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Somando 26 anos de carreira e, agora, 18 discos editados e inúmeros concertos em todo o mundo, Cristina Branco é uma incontornável embaixadora da cultura portuguesa. A sua obra é um enorme contributo para a divulgação e defesa da música, da língua e dos autores portugueses. No seus discos, Cristina dá voz a diferentes gerações de autores como António Lobo Antunes, Maria do Rosário Pedreira, José Afonso, Manuela de Freitas, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Pedro da Silva Martins, Mário Laginha, Teresinha Landeiro, Jorge Cruz, Francisca Cortesão, entre muitos outros. Hoje, lança o 18º álbum intitulado "Mãe", uma homenagem ao Fado Tradicional para ouvir na Rádio Voz da Planície.

fotografia: Augusto Brázio

"Ser mãe é como um caminho de volta a casa, é como recomeçar uma civilização. Neste disco, quis enfrentar a minha própria batalha ao debruçar-me sobre o que me foi dado viver através da música, de como ela me acolheu, de como ela derrubou todos os obstáculos que me impediam de sair da minha ilha. Ao ter esta mãe como companheira de muitos anos aprendi a ser apenas eu, abrindo espaço para criar músicas, um fado fora do fado tradicional e dentro dele", explica a cantora.

"Mãe" é, então, a música, o seu porto seguro, o lugar onde sempre se aconchegou, mas no disco que é editado hoje, 22 de Setembro, Cristina Branco tem o Fado Tradicional como ponto de partida. E de homenagem.

"O fado é quase magia, é um processo pelo qual se tem de passar – de viver, de aprender, de respeitar. Fui olhando sempre para o fado com imenso respeito mas também com medo. De há uns anos a esta parte, voltei a cantar mais fados, como processo de aprendizagem, e fui ganhando uma paixão imensa pelo fado. Muito mais do que tinha no início. Hoje, faz mesmo parte de mim e era muito importante fazer um disco apenas de fado", acrescenta a cantora.

É de fado, e de Fado Tradicional, que se fala em "Mãe", do Fado Cravo ao Fado Rosita, do Fado Santa Lúzia ao Fado Carriche. "Quando se começa, e se vem com a frescura da juventude, pensa-se 'eu sou do fado, vou fazer fado' mas, à medida que o tempo foi passando, fui-me distanciando dessa linguagem e começando a perceber que o fado era muito mais do que aquilo que eu lhe estava a dar. Precisei de aprender e respeitar, com humildade, o género para o poder abordar", conclui Cristina Branco.

 "Mãe", o 18º álbum de Cristina Branco em 26 anos de carreira, movimenta-se na solenidade que envolve o fado, na magia que se encontra quando se mergulha na música mas também na emoção que as palavras traduzem, nas respirações das suas vírgulas, na intensidade dos seus silêncios.

O arranque, assinalado com a primeira amostra do disco, "Senhora do Mar Redondo", é disto exemplo perfeito, um diálogo a quatro vozes, onde as palavras de Lídia Jorge são interpretadas como se de um manto de libertação se tratassem.

Para a escolha dos poemas de "Mãe", Cristina Branco procurou a densidade poética que o fado tem que carregar, quer se tratassem de vultos incontornáveis como Fernando Pessoa ou David Mourão-Ferreira ou dos clamores femininos de Aldina Duarte, Manuela de Freitas ou Natália Correia. "Não sou história por viver, sou a história por contar", entoa em "Folha em Branco": as palavras podem ser de Teresinha Landeiro, que assina, ainda, "Liberdade" e "Passos Certos", mas definem o olhar de Cristina Branco em "Mãe".

Pelos contornos de "Mãe" encaramos a melancolia de frente mas também nos rendemos à nostalgia das vivências. Embalamos o corpo em cadências lentas mas também dançamos. Se "Essa Tristeza" é subtileza apaixonante, "Noite Apressada" é sombra à procura de expiação. "Liberdade" é ode convicta mas "Folha em Branco" é ginga. Ao longo do álbum, o piano de Luís Figueiredo é tão subtil como emblemático, o contrabaixo de Bernardo Moreira tanto abraça como ampara, a guitarra portuguesa de Bernardo Couto provoca arrepios com a mesma tranquilidade que assinala cada instante de paixão – e, depois, há a voz de Cristina Branco, límpida e pura, capaz de traduzir na perfeição cada curva da vida que tem de estar presente quando se canta, realmente, fado.

"Mãe" começa no silêncio e acaba no silêncio, no silêncio desmedido da voz de Cristina Branco em "Fado de Uma Mulher Feliz Sozinha". Ela está só mas, ao contrário do título do poema de Aldina Duarte, não está sozinha. É impossível estar sozinho quando se expõe tamanha tradição. Em "Essa Tristeza", quando encena as palavras de Manuela de Freitas, assume, entre confissão e orgulho, "sei que com esta tristeza não sou livre nem cativa, sou fadista, com certeza". Que não restem dúvidas: Cristina Branco é fadista mas, acima de tudo, em "Mãe", Cristina Branco é do fado.

Em 2022, percorreu a Europa em mais de 50 concertos e lançou o 'documento' (como carinhosamente gosta de lhe chamar) 'Amoras numa Tarde de Outono', fruto da sua longa colaboração com o pianista João Paulo Esteves da Silva.
É no palco que tudo se conjuga. Os concertos de Cristina Branco são conhecidos pela sua intensidade emocional e habilidade técnica, a sua interpretação ao vivo transcende a experiência musical das gravações.

Para apresentar "Mãe", vai subir ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 21 de outubro, rumando ao Porto – Casa da Música, no dia 30 de Novembro e, posteriormente, ao Auditório Municipal de Lagoa, no dia 1 de Dezembro. A 2 de Fevereiro de 2024, Cristina Branco actua no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, incluída no ciclo "Há Fado no Cais".

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