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Música

Long Live, Sinéad O'Connor!

Long Live, Sinéad O'Connor!

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A notícia da morte de Sinéad O'Connor foi como um murro no estômago, mesmo com todos os sinais que já previam um desfecho trágico a qualquer momento. A voz de uma geração que se apaixonou tanto pela sua fragilidade como pela coragem que transmitia nas suas palavras, acções e actuações, e que travou uma luta desleal contra os abusos sexuais perpetrados por membros da Igreja Católica irlandesa, dos quais foi vítima na sua infância, fazem de Sinéad O'Connor uma heroína musical e simultaneamente uma heroína de todas as outras vítimas de abusos a nível mundial.

fotografias: Getty Images / David Corio - The New York Times

Nunca se calou, mesmo depois das inúmeras tentativas para ser silenciada, principalmente pela mãe, uma pessoa com uma personalidade tóxica e abusiva da qual Sinéad queria total distância. O facto de rapar o cabelo, a sua "imagem de marca", não era uma estratégia comercial, mas sim a forma que arranjou para se parecer o menos possível com a sua progenitora, com a qual tinha semelhanças difíceis de disfarçar.

Mas, também no mundo onde supostamente deveria estar como peixe na água, foi muitas vezes alvo de injúrias e cancelamentos. Recorde-se a sua actuação no tributo a Bob Dylan no qual cantou a cappella o tema "War", de Bob Marley, perante uma plateia dividida, de onde sobressaíam os apupos e assobios na tentativa de a silenciar. Tudo aconteceu depois de trazer a público a sua história sobre os abusos de que foi alvo, quando rasgou uma fotografia do Papa João Paulo II, durante um episódio do conhecido programa norte-americano, Saturday Night Live, em 1992, enquanto interpretava a mesma canção. Ninguém queria saber de onde vinham aquelas histórias de uma criança, supostamente perturbada por alucinações, e que tinham feito perder a noção da realidade à bem sucedida artista, mas o tempo viria a dar razão a Sinéad e as revelações tornaram-se de tal forma monstruosas que o mundo inteiro se remeteu ao silêncio, no lugar de punir os crimes e de pedir desculpa às vítimas. Muitas continuam à espera e muitas outras já desistiram, sem contar os inúmeros suicídios que aconteceram entretanto.

Sinéad O'Connor nunca dissociou uma coisa da outra. Em muitas das suas canções retrata, de forma mais ou menos directa, as suas memórias, as piores e as melhores. A cada revelação, foi-se percebendo que o peso dos abusos teimava em ser superior ao do amor, mesmo vivendo rodeada dos poucos amigos e família que conseguiu manter por perto. E, foi precisamente no seio familiar que o pior dos cenários assombrou ainda mais a vida da cantora, quando recebeu a notícia do suicídio do seu filho Shane Lunny, em Janeiro de 2022. 18 meses depois, o mundo recebe a notícia da sua morte. SInéad O'Connor tinha 56 anos.

Desde "The Lion and The Cobra", o primeiro disco editado em 1987, passando pelo galardoado "I Do Not Want What I Haven't Got", de 1990, de onde saiu o emblemático "Nothing Compares 2 U", tema escrito e editado originalmente em 1985 por Prince e oferecido depois à cantora, bem como muitos outros momentos relevantes, a Rádio Voz da Planície vai recordar esta grande voz, as suas canções e a sua história, contribuindo para que se mantenha acesa a sua chama.

"Long live, Sinéad O'Connor, 'cause nothing compares to you!"

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