Voltar

Discos, Concertos

LINA_ apresenta "Fado Camões" no Pax Julia

LINA_ apresenta "Fado Camões" no Pax Julia

Discos, Concertos

Este sábado, 17 de fevereiro, LINA_ apresenta “Fado Camões” no Pax Julia, Teatro Municipal de Beja. A fadista falou com a Rádio Voz da Planície no passado dia 14 e partilhou o que sentiu com a redescoberta de um dos maiores nomes da literatura portuguesa e da inspiração nos seus textos para este trabalho que, segundo a artista, parece que foram escritos de propósito para o fado. As canções, gravadas entre janeiro e maio de 2023, materializam-se agora num disco e numa digressão internacional, no mesmo ano em que se comemora o quinto centenário de Luís Vaz de Camões.

Foto: Ana Cunha, Gonçalo Santana, Luís Mileu

Photo© Art Direction. ACBD Studio Ana Cunha Gonçalo Santana / fotógrafo: Luís Mileu

LINA_ canta Camões: Para renovar o fado e a alma de quem a ouve. Uma voz expressiva inconfundível. Uma música espaçosa assente no Fado. Um trabalho de composição singular à volta da poesia de Camões. O novo álbum de LINA_ foi recentemente editado pela editora alemã Galileo Music, depois de há três anos ter surpreendido o mundo ao lado do produtor e músico espanhol Raül Refree, num álbum com vista para Amália, celebrado nos palcos do globo.

LINA_ regressa agora na companhia do produtor e músico britânico Justin Adams, naquele que acaba por ser um álbum mais pessoal, tendo como base a lírica de Camões, a composição de fados tradicionais e também da autoria da própria cantora. Segundo ela, a ideia começou a tomar forma depois de se debruçar sobre a vida de Amália e de ter percebido que o poeta de que mais gostava era Camões. “Fiquei curiosa, quis conhecer mais, para além dos ‘Lusíadas’ ou dos ‘Sonetos’, e fui descobrindo que as temáticas de Camões – a mudança, a infância, o amor, o desamor ou a descrição da natureza – se podiam adaptar ao fado e às suas métricas”.

Um encontro entre cantora e poeta que, um outro poeta e ensaísta, Nuno Júdice, descreve assim: "Para cantar um poema perfeito, só uma voz perfeita. A forma como ambos se conciliam fazem-nos ouvir, para lá dos tempos, dos instrumentos e das palavras o canto da própria poesia. É esse milagre que temos na voz de LINA_ e na recriação musical que encontramos ao longo destas canções. Mais do que o que fado, mais do que uma identidade portuguesa, é o regresso a esse espírito ibérico que caracterizou Portugal até ao século XVII que agora vemos renascer, com a pureza sem preconceitos de uma interpretação em que o português e o galego se unem em total harmonia, como na origem galaico-portuguesa das duas línguas hoje autónomas."

Existem justificadas expectativas sobre este novo trabalho, depois do reconhecimento do anterior registo – álbum do ano para a World Music Chart de 2020 ou Prémio Carlos do Carmo 2021, entre muitos outros – abrindo-se agora um novo capítulo ao lado de Justin Adams, músico, compositor e produtor, conhecido por produções para Robert Plant, Rachid Taha, Tinariwen, Jah Wooble ou Souad Massi, ou pelas colaborações com nomes distintos como Brian Eno ou Sinead O’ Connor. Numa frase: alguém que sempre esteve comprometido com essa ideia de misturar o tradicional com elementos contemporâneos. Tendo crescido no Egipto, promoveu o encontro dos blues com as dinâmicas tradicionais da música do Magrebe, sendo agora essas influências transportadas para o trabalho com LINA_.

Não surpreende que a voz e os acordes da guitarra portuguesa, que nos remetem para o Fado, coabitem com um certo balanço e clima africanizado, como em “Quando vos veria”, ou “In labirinto”, com a presença subtil da percussão por entre a voz, ou no lado solto de “Desencontro”, enquanto em “O que temo e o que desejo”, um dueto com o Asturiano agitador folklórico Rodrigo Cuevas, é um insinuante ritmo latino que se encontra com os acordes do Fado.

É, ao mesmo tempo, uma nova e uma familiar LINA_ que entrevemos no novo trabalho. A elegância despojada do passado recente, ainda está lá, mas agora existe uma nova espacialidade, onde a voz sobressai por entre piano, guitarra e quase silêncio, criando outros cenários, com a dor, justeza e dignidade, a par, como em “Desamor” ou “Senhora minha”. Em “Amor é um fogo que se arde sem se ver”, a voz de LINA_ suspende-se, numa atmosfera quase próxima do silêncio, apenas alguns acordes de guitarra e uma névoa digital como suporte, enquanto em “Pois meus olhos não cansam de chorar”, são integrados ruídos concretos por entre notas de piano, com a poesia de Camões a revelar-se em cenários de melancolia, mas também de celebração.

Em estúdio estiveram Pedro Viana, na guitarra portuguesa, o inglês John Bagott, que já trabalhou com os Massive Attack, Portishead ou Robert Plant, no piano e teclas, e Ianina Khmelik, em dois temas, no violino.

“O Raül e o Justin têm essa curiosidade em descobrir ligações entre o tradicional e o contemporâneo, mas desta vez o processo foi diferente”, reflete LINA_. “Neste caso fui eu que fiz em casa as ‘demos’ e idealizei os ambientes de cada música, surgindo depois os arranjos e os processos de produção. Foi árduo. Daí ser um disco assinado apenas por mim. Em relação ao anterior, este é mais debruçado na língua, na escrita, na poesia e na estrutura dos poemas do Camões que se podem unir ao fado. O outro tinha mais a ver com a música, o som, as texturas”, diz a cantora.

Uma obra mais personalizada, o que não significa, obviamente, um leque de colaborações menos importantes, como aconteceu com Amélia Muge, que para além de ser autora da música da canção “Senhora minha”, constituiu uma voz importante na adaptação das letras. “Nada se faz sozinha”, diz LINA_. “A Amélia foi muito especial. O meu ombro neste caminho. As suas opiniões foram fundamentais. Aprendi imenso com ela”.

Na digressão que tem início em janeiro, LINA_, para além da voz, estará também nos sintetizadores e percussão, Pedro Viana na guitarra portuguesa, Ianina Khmelik no violino, piano acústico e sintetizadores, prevendo-se que John Baggott também venha a estar presente em algumas datas. O que não invalida que LINA_ continue a atuar assiduamente no Clube de Fado, em Lisboa, onde é residente: “É um treino vocal e emocional”, como ela diz, para se alcançar resultados como os de “Fado Camões”, onde a sua expressão vocal, e a música, renovam o fado, e a alma de quem a ouve.

A fadista falou com a Rádio Voz da Planície, na emissão da manhã da passada quarta-feira, 14 de fevereiro, e contou-nos um pouco do caminho percorrido no processo deste novo trabalho.

Este sábado, 17 de fevereiro, LINA_ apresenta ao vivo “Fado Camões”, num concerto marcado para as 21h00, no Pax Julia, Teatro Municipal de Beja. A digressão segue depois para outros palcos, dentro e fora do país.

14 MARÇO - LLEIDA (ES) -  Mude Festival
15 MARÇO - PARIS (FR) - Studio de l'Ermitage
16 MARÇO - BORDAEUX (FR) - Rocher de Palmer
13 ABRIL - LUDWIGSBURG (DE) - Forum Am Schlosspark
8 MAIO - OEIRAS (PT) - Auditorio Ruy de Carvalho
31 MAIO - DORTMUND (DE) - [Sala a confirmar]
5 JULHO - FORDE (NO) - Førde Festivalen

Leia também...

Top
Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização.