O IPMA deixa claro que “a sul do Tejo espera-se
uma situação de seca extrema", com o litoral alentejano e a região de
Lisboa a enfrentarem as piores condições.
A falta de água faz-se sentir, sobretudo, na agricultura e pecuária e as previsões, no que se refere à precipitação, são de que este inverno continue a ser “invulgarmente seco”. A A.A.C.B, na voz do seu presidente José da Luz, deixa claro que “já não há pastagens” nem “o que estava armazenado” para suprimir esta falta. Acrescenta que à seca juntaram-se “os preços das rações que dispararam” e revela que “se não chover nos próximos 15 dias, as culturas outono/inverno e pastagens estão completamente perdidas”.
José da Luz assegura que o “campo branco” já passou por diversas secas, mas que esta “é a pior de todas pois afeta o País de uma maneira geral e de forma severa”. É perentório ao afirmar que “nesta situação, seca e custos de produção inflacionados, sem apoios extraordinários as explorações de sequeiro não vão sobreviver”.
António Tomé e Teresa Mestre dedicam-se à agropecuária e à produção de cereais nas suas explorações familiares, em pleno “campo branco”, que integra os concelhos de Castro Verde e Almodôvar, assim como parte dos de Aljustrel, Mértola e Ourique. Locais onde o regadio de Alqueva não se faz sentir.
António Tomé, que tem a sua exploração familiar em São Marcos da Atabueira, concelho de Castro Verde, explicava à Voz da Planície, em novembro do ano passado, que vivia situações semelhantes à de muitos outros agricultores em que “o aumento dos fatores de produção, junto com a seca”, que já se fazia sentir, estavam a “asfixiar as pessoas”, queixando-se, na altura, do preço dos adubos e outros produtos que utiliza nas suas produções. E acrescentava o facto de estar numa “das zonas, falando do clima, mais castigadas”, referindo-se à escassez de chuva e às consequências que isto tem na produção agrícola e pecuária.
Teresa Mestre, também se dedica à agropecuária e produção de cereais na exploração agrícola da família, que fica entre Castro Verde e Aljustrel, há, sensivelmente, seis anos e para esta agricultora “a união destes dois fatores”, ou seja “o aumento dos custos de produção e o ano agrícola desfavorável, que se tem verificado, complicam a vida de quem vive da terra.”
Os impactos da seca na agricultura e na pecuária têm chegado de todas as frentes. A Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) chamou a atenção para as preocupações das explorações agrícolas e pecuárias, em que o abeberamento do gado e a escassez de forragens entraram. Apesar da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) garantir que a água da barragem chega para regar e abastecer as casas de 250 mil alentejanos há, contudo, entidades preocupadas, desde já, com as questões do regadio e a pedir uma descida no preço da água, como é o caso da Federação Nacional de Regantes (FENAREG).
Na publicação do IPMA é esclarecido que “a seca que começou em novembro não parou de se agravar até ao final de janeiro” e que “houve mesmo, um aumento significativo da área e da intensidade, estando todo o território nesta situação, com 1% em seca fraca, 54% em seca moderada, 34% em seca severa e 11% em seca extrema".
Em alturas como esta faz-se sempre uma avaliação sobre a origem desta situação de seca. E são vários os especialistas que dizem que a principal está nas alterações climáticas, que provoca fenómenos extremos cada vez mais frequentes.
O IPMA não faz previsões superiores a 10 dias, mas deixa algumas para este mês alarmantes, frisando que "todos os seis modelos de previsão probabilística sazonal a que tem acesso preveem cenários que variam entre anomalias negativas ligeiras a anomalias negativas moderadas para a precipitação", apontando para o cenário mais “gravoso”, ou seja a ausência de chuva nos próximos tempos.
Foto: Jornal de Notícias.
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