A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) monitoriza 75 albufeiras e segundo os dados atualizados, na semana passada, a maior parte delas, 40, estava com uma capacidade entre os 81 e os 100 por cento. No panorama da retenção de água sobressaem no entanto três, com menos de 20 por cento de água: Bravura (12 por cento), no concelho de Lagos, Campilhas (10 por cento), em Santiago do Cacém, e a pior, Monte da Rocha a 9 por cento da capacidade.
Construída para abastecimento humano e rega, a barragem do Monte da Rocha nem chegou este ano a permitir a rega, tal a pouca água que armazenou, destinada apenas a servir os concelhos de Castro Verde, Ourique, Almodôvar, Mértola e Odemira, que num total têm mais de 50 mil habitantes.
“Para já, o Monte da Rocha nem parece uma barragem. A erva cresce e seca nas paredes e no leito e onde devia estar água crescem os juncos, as estevas, as urzes, as silvas e pelo menos um pequeno pinheiro já lá está, sinal de que há muito a água não cobre o terreno”, diz quem mora nestas paragens do distrito de Beja.
Parte dos 450 elementos da Associação de Regantes não tem água para regar. “Somos uma das poucas associações do País que não pode regar devido à falta de água”, lamenta Ilídio Martins, desta organização.
A associação abrange os concelhos de Santiago do Cacém, Odemira e Ourique, mas Ourique praticamente não tem água para regar e parte de Santiago também não.
A associação gere cinco albufeiras, duas das três que estão “no vermelho”, Campilhas além de Monte da Rocha. Campilhas encheu pela última vez em 2013 e a água deste ano é apenas para rega de emergência e para dar de beber aos animais. E soluções para Campilhas, para já, dependem dos céus.
Monte da Rocha é ainda assim diferente. Ilídio Martins afirma que tem apenas 9,5 milhões e metros cúbicos de água, que este ano nem sequer abriu para a agricultura, mas que decorre o concurso público para a execução da obra e que dentro de dois anos a água de Alqueva pode chegar ali. E compor o “azar da natureza”.
O presidente da Câmara de Almodôvar admite alterar as tarifas da água, cujo valor pode duplicar em certos casos para os consumidores, e teme que o concelho fique sem água no futuro, culpando o Governo. António Bota critica a falta de medidas para resolver ou minimizar o problema recorrente da falta de água no concelho, antevendo que dentro de 40 anos nem seja possível viver na vila e que o Baixo Alentejo se torne um deserto.
Com uma crónica falta de água, Almodôvar é abastecido pela barragem de Monte da Rocha, no concelho vizinho de Ourique. Em maio o Município já tinha implementado medidas de contenção de consumo de água mas agora, na entrevista, António Bota admite ir mais longe: quem mais gastar mais paga e esse valor pode ser o dobro.
António Bota defende que o “plano diferenciador” procurará desmotivar o consumo exagerado e ao mesmo tempo será um “método de sensibilização” que pode ser eficiente. Nesse sentido, já mandou fazer um estudo de médias de consumo, para perceber o perfil e criar cenários, para depois criar essa taxa.
António Bota é também presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), constituída pelos municípios de Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira.
E é como responsável pela comunidade que lamenta que todos os anos os agricultores, pecuários, consumidores vivam o problema da seca e “não existam soluções a ser preparadas para precaver o futuro”.
“Não vemos solução à vista, temos falta de água, não chove, as reservas de água não chegam para os agricultores investirem, para os pecuários terem os seus animais, para termos uma vida em termos de turismo com investimento, com dedicação ao terreno, e depois não vemos a ser nada feito para que num futuro próximo ou médio ultrapassemos ou mitiguemos o problema da falta de água”, critica.
É também cético quanto a investimentos em concelhos como Ourique, Castro Verde, Almodôvar ou Mértola, porque os investidores precisam de água.
O Governo divulgou recentemente um Plano de Eficiência Hídrica para o Alentejo, mas o autarca não mostra grande esperança: “são coisas que levam muitos anos e enquanto não houver água acumulada o plano não resolve.
Na CIMBAL, nota, estão a trabalhar para se construir uma rede de açudes. “Mas é a 10 ou 15 anos, precisamos de água já” e “poupar é que não conseguimos mais, precisamos de um banho de vez em quando”.
O Governo já devia ter estudado as culturas possíveis para a região e, sobretudo, ter feito a retenção de água. E se essa não for a solução há outra, ligar as barragens do norte às do sul do país, uma conduta que traga para sul a água a mais do norte, propõe.
António Bota admite que é uma solução dispendiosa, mas talvez menos do que investir em dessalinizadoras.
Urgente mesmo, insiste, era a barragem de Oeiras e, nesse sentido estão a tentar levar à Assembleia da República uma petição, para o assunto ser discutido.
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