O alerta da associação Zero surge, em comunicado, a propósito do Dia Internacional da Biodiversidade, assinalado a 22 de maio.
"A biodiversidade na área de influência do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) regista claros sinais de colapso, um desastre pré-anunciado mas que foi, e continua a ser, desvalorizado nos processos de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) e na própria gestão do regadio", diz a associação.
A associação considera que, "dada a extensão dos danos ambientais causados e o conhecimento prévio destes impactes dificilmente mitigáveis", pode estar-se perante um "ecocídio".
A Linária-dos-olivais ('Linaria ricardoi') é uma espécie protegida e listada como prioritária, tendo a entidade gestora do EFMA, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), ficado incumbida de adotar medidas para mitigar os impactos, refere a Zero.
A associação adianta que a monitorização está a ser feita, mas "não estão a ser implementadas medidas para a efetiva proteção da espécie, e os sistemas agrícolas potenciados por Alqueva têm-se mostrado incompatíveis com a preservação da espécie".
A Zero diz que, segundo os relatórios de monitorização, em três anos a espécie perdeu mais de 800 hectares (ha) do seu habitat na área monitorizada – os perímetros de rega de Pisão, Alvito-Pisão, Ferreira e Valbom, Alfundão e Beringel-Beja.
Os charcos temporários mediterrânicos "são outro exemplo pela negativa dos impactos do regadio de Alqueva sobre a biodiversidade", afirma a associação, indicando que foram destruídos total ou parcialmente mais de 20 charcos temporários na área de influência do EFMA, dando lugar a culturas de regadio.
A associação refere ainda o desaparecimento de habitat para aves estepárias, a destruição de florestas-galerias, a degradação e destruição de montados e a conversão cultural de sistemas agro-silvo-pastoris e a erradicação de vários endemismos ameaçados.
Para a Zero, a "falha da proteção da biodiversidade na área de influência de Alqueva mostra inoperância da legislação de avaliação de impacte ambiental".
"Os programas de monitorização e de conservação, na prática, têm apenas servido para documentar a catástrofe", sublinha a associação.
Por outro lado, continua, "a recusa por parte das entidades competentes em tomar ações concertadas e consequentes para proteger a biodiversidade enquanto bem público, dentro dos quadros legais e regulamentares existentes, é demonstrativo de um favorecimento tácito dos interesses económicos do agronegócio instalado nas regiões do Baixo Alentejo e Alentejo Central".
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