"Comer doces causa diabetes?"
Vera Guerreiro (VG): Esta é uma questão frequente. A resposta é sim e não. Não no sentido em que não é só por comer doces que vamos ter diabetes. Existem muitos fatores para o surgimento da diabetes e não só um. Primeiro a tal tendência genética e alguma predisposição para ter diabetes. Se a pessoa tiver predisposição e lhe forem dadas as condições ideais, e aqui as condições ideais para este surgimento têm a ver com alimentações erradas e excesso de peso e obviamente que isso está inerentemente ligado a quem come muitos doces. Não há um fator único.
"É fácil saber os sinais da diabetes?"
VG: Não, não é fácil, esta é uma doença silenciosa e, portanto, na grande maioria das situações o açúcar está alto no sangue e não existem sintomas. Em caso em que os valores estão muito elevados pode haver alguns sinais como a boca seca, ter muita sede, fazer muito xixi, perder peso e ter muita fome, mas são em situação muito extremas. Na grande maioria não há sinais, é uma doença silenciosa e, portanto, não é nada fácil identificá-la só com sintomas.
"É possível curar a diabetes?"
VG: Infelizmente a resposta é não. É uma doença crónica que consegue ser controlada, mas não curada. Isto para dizer que eu posso ter os valores controlados com a medicação, mas se a parar vou voltar a ter os valores prévios. Conseguimos, se efetivamente a pessoa fizer um esforço importante, perder uma quantidade de peso significativa, reduzir muito na medicação. Mas a cura neste momento não é uma realidade.
"Os diabéticos podem ter mais gripes e constipações do que os não diabéticos?"
VG: Não há nada provado, mas quem tem diabetes, e especialmente quem tem diabetes com muito tempo de duração e já com algumas complicações, tem risco de no caso de ter uma constipação ou uma gripe ela tenha uma maior gravidade. Daí que os diabéticos tenham indicação para fazer a vacina da gripe anual, exatamente porque ela pode trazer mais complicações do que na população em geral.
"Só pessoas obesas têm diabetes tipo 2?"
VG: Não. De facto, cerca de 90% com diabetes tipo 2 tem obesidade. Ela é muito mais frequente em pessoas com obesidade, mas existem pessoas que não são obesas e que podem ter diabetes tipo 2. É uma percentagem, apesar de tudo, relativamente reduzida.
"Diabéticos não podem comer pão, batatas e massa?"
VG: Não existe propriamente nenhuma alimentação especial. Os únicos alimentos que costumo chamar das “ocasiões especiais”, que são os doces, o diabético vai comer, mas vai “guardar” para um aniversário, uma festa ou um dia em que vá sair.
Todos os outros alimentos podem ser consumidos de forma regular, desde que se tenha atenção às quantidades. Nós, no Alentejo, somos fãs incondicionais de pão e o pão não está de todo proibido num diabético. Temos é que saber quando é que o podemos comer, idealmente fora das refeições principais e comer uma fatia, não é comer uma quantidade grande porque sabemos que os hidratos de carbono vão fazer subir o açúcar. Mas nós precisamos dos hidratos de carbono, eles são a nossa fonte de energia, nós devemos consumi-los e os diabéticos também.
"As frutas podem ser consumidas sem controlo pelos diabéticos?"
VG: Está errado. Não existem alimentos proibidos, mas temos obviamente que controlar as quantidades. A fruta é rica em açúcar, a frutose, é um açúcar saudável, é um alimento natural, e um açúcar muito mais saudável do que aquele artificial adicionado nos doces, sumos, etc, mas não deixa de ser um açúcar que vai elevar a glicémia e, portanto, devemos comer três a quatro peças de fruta por dia, no máximo.
Quando falamos numa peça de fruta, temos que perceber que há alguns alimentos em que o conceito de uma peça de fruta é discutível. Por exemplo, as uvas, o equivalente a uma peça de fruta são cerca de oito bagos, não é um cacho inteiro, a melancia uma fatia, mas há melancias pequeninas e muito grandes. Aqui a ideia tem a ver sempre com quantidade.
"Diabetes e insulina"
VG: A insulina é uma arma importante no controlo da diabetes, o facto de haver pessoas que necessitam para o controlo da sua diabetes de insulina, por vezes não tem a ver nem com a gravidade, nem o tempo de evolução, é necessário. De facto, é uma terapêutica injetável, já há outros fármacos na diabetes que também são injetáveis sem ser insulina, as pessoas não ficam dependentes de insulina, é uma arma como as outras, que se paramos voltamos ao controlo prévio que tínhamos. Tem muito poucos efeitos secundários e é sempre um medo grande de quem inicia insulina, é importante desmistificar isso, é um fármaco como os outros, e que pode ser utilizado em várias fases da diabetes. O que é importante num diabético é que tenha os níveis controlados, seja a recurso de que fármaco for.
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Desde 1991 que no dia 14 de novembro é celebrado pela Federação Internacional de Diabetes (International Diabetes Federation) e pela Organização Mundial de Saúde como Dia Mundial de Diabetes. O objetivo da data é chamar a atenção dos cidadãos e governantes para a problemática desta doença, que atinge cerca de 415 milhões de pessoas a nível mundial.
Portugal posiciona-se entre os países europeus que registam uma das mais elevadas taxas de prevalência da diabetes.
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