Segundo o documento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a prevalência de insegurança alimentar moderada e severa baixou em Portugal de 14,7 por cento para 12,4 por cento da população entre os períodos de 2014-2016 e 2020-2022.
Apesar da redução, Portugal é o sexto País entre os 13 da Europa do Sul com a percentagem mais elevada neste indicador, atrás da Albânia (30,2 por cento), Macedónia do Norte (24 por cento), Sérvia (14,8 por cento), Bósnia Herzegovina (13,4 por cento) e Montenegro (12,9 por cento).
Ana Marta Faria, nutricionista e colaboradora da Voz da Planície, comentou estes dados, explicando o que é "segurança alimentar", ou seja, esclareceu, que quer dizer "que todas as pessoas têm acesso aos alimentos que lhes permitem o equilíbrio nutricional adequado". Prosseguiu sublinhando que "insegurança alimentar" significa o oposto, que "12 por cento dos portugueses não têm poucas possibilidades de consumir o básico: carne, peixe, arroz, massas e leguminosas".
Neste contexto, Ana Marta Faria frisou que "são os mais desfavorecidos os mais afetados pelo aumento dos preços e pelas consequências de não conseguirem assegurar nas suas refeições os alimentos essenciais". Em termos de saúde, realça, "maus hábitos alimentares vão traduzir-se em doenças como a obesidade, a diabetes e outras".
Para a nutricionista Ana Marta Faria "falta mais investimento do Estado na promoção de uma alimentação saudável", defendendo "medidas imediatas para os casos mais carenciados, como vouchers para comprar os alimentos base, assim como aumentar salários pois diminuir o IVA nalguns alimentos, tendo em conta este estudo, não se revelou suficiente", frisou.
Ana Marta Faria alerta, ainda, para o facto de que "pode ficar no futuro mais caro tratar as doenças que muitos vão contrair devido aos maus hábitos alimentares pois será o Estado a pagar essa fatura na saúde, no tratamento destas situações".
O relatório sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo indica ainda que a insegurança alimentar severa atingia 3,9 por cento da população portuguesa no período 2020-2022, menos do que os 4,1 por cento registados em 2014-2016.
De acordo com o documento, a prevalência do excesso de peso nas crianças com menos de cinco anos aumentou de 8,2 por cento para 8,9 por cento entre 2012 e 2022, subindo também dos 19 por cento para os 20,8 por cento na população com mais de 18 anos.
A FAO avança ainda que 1,2 por cento da população portuguesa era incapaz de custear uma dieta saudável em 2021, percentagem que é menos de metade da média da Europa do Sul (2,6 por cento).
A nível global, o relatório alerta que a “fome no mundo ainda está muito acima dos níveis pré-pandemia”, estimando que entre 690 e 783 milhões de pessoas “enfrentaram a fome em 2022”, mais 122 milhões do que antes da covid-19.
Segundo o documento, o aumento da fome global estagnou, porém, no último ano devido à recuperação económica após a pandemia, mas “não há dúvida de que esse progresso modesto foi prejudicado pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia, ampliado pela guerra na Ucrânia”.
A FAO estima que quase 600 milhões de pessoas ainda enfrentarão fome em 2030, mais 119 milhões do que num cenário em que nem a pandemia de covid-19 nem a guerra na Ucrânia tivessem ocorrido.
Além da FAO, o relatório foi elaborado com os contributos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa Alimentar Mundial (WFP) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
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