A pandemia trouxe quadros depressivos, mas para muitas famílias foi também sinónimo de uma proximidade física forçada pelos isolamentos, que garantiu que se vigiassem umas às outras, controlando um possível aumento de suicídios, segundo o investigador Adalberto Dias de Carvalho.
“Uma análise feita pela investigadora Luísa Loura da Pordata, da
Fundação Francisco Manuel dos Santos, para a Lusa indica que entre 2016 e 2019,
último ano para o qual há dados disponíveis, revela que os distritos com maior
taxa de suicídios nos últimos quatro anos foram Évora, Beja e Faro.
“As temáticas do suicídio podem e devem ser faladas, a questão é a
maneira como falamos delas”, disse em entrevista à agência Lusa Ana Matos
Pires, membro da Coordenação Nacional das Políticas para a Saúde Mental, em
particular da área do suicídio.
A psiquiatra Ana Matos Pires defende que a atenção dada à saúde
mental foi “o único efeito colateral” positivo da pandemia de covid-19 a nível
nacional e internacional.
“Há um círculo de pessoas
que são afetadas quando alguém se suicida”, sustentou a também diretora da
Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo e coordenadora regional da Saúde
Mental do Alentejo.
Apesar de “uma percentagem enormíssima” dos suicídios acontecer no
contexto de uma perturbação mental e, em particular, de uma perturbação
depressiva, a psiquiatra esclareceu que o suicídio não é uma doença, mas sim um
comportamento.
Em Portugal, cerca de três pessoas morrem por suicídio a cada dia,
e muitas mais tentam fazê-lo. Este fenómeno não escolhe classes, género, idade
ou região geográfica.
A Campanha Nacional de Prevenção do Suicídio pretende mudar
atitudes em relação ao suicídio e à doença mental, aumentar a literacia em
saúde mental e lutar contra o estigma e incentivar ao pedido de ajuda às
pessoas em risco para reduzir o número de suicídios em Portugal.
“A melhor estratégia de combate ao suicídio é a sua prevenção”,
defendeu Ana Matos Pires, frisando que, “como comportamento humano que é, o
suicídio nunca será igual a zero”, devendo apostar-se no diagnóstico e no
tratamento atempado e eficaz da perturbação depressiva para diminuir este
fenómeno.
Rádio Voz da Planície/Lusa
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