Os professores do 2.º e 3.º ciclos e do ensino secundário estão a trabalhar, em média, mais de 50 horas por semana, segundo os dados preliminares do inquérito realizado pela Fenprof entre setembro e outubro e que envolveu 4.471 docentes de todo o país.
O sobretrabalho já tinha sido denunciado em 2017 pela Fenprof, que na altura disse que se registavam semanas de trabalho de 47 horas, mas “a situação agravou-se” nos últimos sete anos, sublinhou o dirigente sindical Vitor Godinho, em declarações à Lusa.
A trabalhar mais 15 horas por semana, os professores são obrigados a sacrificar a sua vida pessoal e familiar, o que os pode levar “à exaustão”, havendo muitas "situações de burnout”, alertou, lembrando que também fica em causa a qualidade de ensino.
Mais alunos e mais turmas atribuídas são sinónimo de mais trabalho, que se nota em tarefas como preparar aulas ou corrigir testes e trabalhos de casa.
O inquérito divulgado mostra que 43,2% dos professores têm mais de 100 alunos: 38% tem entre 100 e 200 estudantes e os restantes 5,3% têm mais de 200 alunos.
Vitor Godinho garante que os dados do inquérito podem ser extrapolados para o universo da classe, uma vez que estão representados todos os grupos etários, regiões do país, grupos de recrutamento ou sexo.
Os professores com muitos alunos acabam por ter maiores dificuldades em fazer um acompanhamento personalizado. “Os professores já não estão a dar o melhor de si”, disse, explicando que “ao terem 200 alunos a cargo torna-se difícil conhecê-los a todos” e a frustração pode dar lugar ao 'burnout'.
O estudo mostra que apenas metade dos docentes tem menos de cinco turmas atribuídas, o que para a Fenprof deve ser o limite máximo de turmas atribuíveis a cada docente.
Já um em cada cinco docentes (19,5%) tem sete ou mais turmas a cargo, havendo mesmo 4,2% dos professores com 11 ou mais turmas atribuídas.
Ter mais alunos e turmas é sinónimo de mais trabalho, sendo que há casos de professores que têm turmas de vários níveis de ensino: A Fenprof defende que o máximo devem ser três níveis, mas 10% têm quatro níveis e 6,8% têm, pelo menos, cinco.
A trabalhar mais de 15 horas semanais do que o previsto por lei, o sindicalista diz ser “preciso impedir que a ilegalidade se instale” e pede aos responsáveis políticos que olhem para os resultados do inquérito “para que o inferno não seja o limite”.
A Fenprof volta a apresentar um conjunto de medidas para garantir a aplicação dos horários de 35 horas, que vão desde “uma distinção séria e clara entre componentes letiva e não letiva do horário dos professores”, voltando a componente letiva a englobar todas as atividades diretas com alunos.
Garantir que os professores têm no máximo 100 alunos, cinco turmas e duas disciplinas, níveis ou áreas curriculares é outra das reivindicações.
A redução da componente letiva de base para 20 horas semanais e a redução de horas para quem tem cargos de natureza pedagógica “em número de horas condizente com as funções e tarefas a desempenhar” também fazem parte do caderno reivindicativo.
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