Em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana, a herdade - que tem dois irmãos como sócios, um deles João Madeira - dedica-se essencialmente à produção de ovelhas, tendo duas mil e 500 cabeças divididas por algumas parcelas dos 950 hectares da propriedade.
Tantos animais assim, duas mil fêmeas adultas, da raça campaniça (autóctone da região do Campo Branco, que compreende os concelhos de Mértola, Almodôvar, Castro Verde e Ourique), poderiam ser uma bênção, mas agora são antes uma dor de cabeça, frisou João Madeira.
João Madeira recorda que há dois anos que não há colheita de forragens, mas também o campo não produziu a erva necessária para as ovelhas se irem alimentando. Os agricultores, salienta, estão esmagados entre a falta de alimentos no campo e um mercado de alimentos para animais que “está com um nível de inflação quase inacreditável”. “Estamos numa tempestade perfeita que desafia o nosso sentido de sobrevivência”.
Para já, vai gerindo as parcelas de terreno e as pastagens que ficaram do inverno e primavera passados, ervas secas e rentes ao chão, quase invisíveis. Quando tudo o que restar for terra há de mudá-las para outra parcela ainda intacta. Mas vai em breve ter de começar a dar-lhe suplementos, que já comprou, e depois serão totalmente alimentadas com produto que ainda não tem.
“Estamos a gerir a crise” até à água do outono, se ela cair, mantendo os animais produtivos. E “estamos a gerir a água, da melhor forma que conseguirmos”.
João Madeira preocupa-se com a preservação da qualidade da água, das pequenas barragens de terra batida, mas sabe que ela vai acabar este verão e que terá de se socorrer de furos artesianos. Afirma que já tem barragens secas, teme que antes de começar de novo a chover possa ficar totalmente sem água.
Com o calor a chegar em força a Mértola, onde choveu até 17 de dezembro e desde então pouco mais que nada, João Madeira já admite vender ovelhas, como vizinhos seus fizeram, mas diz que por enquanto vai conseguido gerir, “à custa da tesouraria e de um esforço de gestão cirúrgica”.
O drama, refere, é a palha a 21 cêntimos o quilo. “É irracional, tem um valor de quatro ou cinco cêntimos e custa 20”. E o feno e outras forragens também triplicaram de preço. E o borrego também vale hoje mais? João Madeira abana a cabeça, o preço está mais baixo, não ultrapassa os 75 euros por animal. O drama de João Madeira é o drama dos agricultores do sequeiro do distrito de Beja, particularmente nos concelhos onde a água do regadio do Alqueva não chega.
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