A pobreza continua a ter forte impacto no sucesso académico, segundo os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) que mostram que a média dos exames nacionais dos alunos carenciados é sempre a mais baixa em relação aos restantes estudantes.
A disciplina que revelou maiores disparidades foi Matemática A: A média dos alunos sem Ação Social Escolar (ASE) foi de 12,4 valores enquanto a dos beneficiários de escalão A foi de 10,6 valores (numa escala da 0 a 20 valores).
A diferença de 1,8 valores a Matemática está próxima da registada a Físico-Química, onde 1,5 valores separam a média dos alunos sem ASE dos mais desfavorecidos, ou a Biologia e Geologia (diferença de 1,3 valores).
Estas três disciplinas são conhecidas por serem as exigidas para entrar nos cursos de Medicina, cuja média de entrada foi a mais alta durante muitos anos.
Mas são também os exames de Biologia e Geologia, Físico-Química e Matemática que abrem a porta para quem quer seguir cursos igualmente difíceis de entrar, como Engenharia Física e Tecnológica, Matemática Aplicada e Computação ou Bioengenharia.
Nesta análise que separa alunos pela sua condição socioeconómica, História A é a disciplina que mais aproxima os jovens: A média nacional dos mais carenciados foi de 12,1 valores enquanto a dos alunos sem ASE foi de 12,5 (0,4 valores de diferença).
No ensino básico, a situação repete-se: Segundo os resultados dos 93 mil estudantes do 9.º ano que realizaram as provas nacionais em 2022, a média dos não beneficiários de ASE foi mais elevada tanto a Matemática como a Português quando comparada com os colegas mais pobres.
Numa escala de zero a cinco valores, a diferença média foi de 0,7 valores a Matemática e de 0,5 a Português, sendo que neste último caso os mais carenciados “chumbaram” e os outros não.
A média a Português dos alunos com Escalão A foi de 2,5 valores, os de Escalão B foi 2,7 e os alunos sem apoio social tiveram uma média de três valores.
Na prova de Matemática a média foi negativa para todos, mas a diferença foi mais notória: Os mais carenciados tiveram dois valores, os com escalão B tiveram 2,3 e os não beneficiários tiveram 2,7.
No mesmo sentido, também é mais fácil encontrar chumbos no final do ano entre os mais pobres, que revelam maiores dificuldades em concluir os ciclos de estudo dentro dos anos previstos.
Tanto no 3.º ciclo como no secundário a diferença da taxa de conclusão no tempo esperado foi de cinco pontos percentuais.
Um em cada 10 alunos do 3.º ciclo (10 por cento) chumbou pelo menos um ano, sendo que entre os mais carenciados o insucesso subiu para 15 por cento.
No secundário, num universo de 60 mil alunos, 23 por cento chumbou pelo menos uma vez ao longo dos três anos, sendo que entre os carenciados a percentagem subiu para 28 por cento.
É entre os alunos do 2.º ciclo que menos se nota o impacto da família e da situação socioeconómica, já que a taxa de sucesso geral foi de 95% e entre os carenciados de 94 por cento.
No 1.º ciclo, num universo de mais de 87 mil alunos, 91 por cento conseguiu terminar os quatro anos no tempo esperado, mas olhando apenas para os alunos com ASE o sucesso desceu quatro pontos percentuais(87 por cento).
No ano letivo de 2020/2021, havia quase 170 mil alunos apoiados com escalão A (17 por cento do total) e outros 145 mil (14,6 por cento) com escalão B: Era no 2º ciclo que estava a maior percentagem de alunos carenciados (41,2 por cento), seguindo-se o 1º ciclo (40 por cento) e só depois o 3º ciclo (37,1 por cento) e o secundário (27,4 por cento).
A situação económica da família e a escolaridade dos pais continuam a ser um fator determinante no sucesso académico dos filhos, uma vez que se pode traduzir em apoio em casa ou capacidade financeira para pagar explicações extra escola.
Muitos alunos carenciados nem sequer tentam candidatar-se ao ensino superior, segundo dados da DGEEC, que mostram que há menos estudantes pobres a fazer exames nacionais desde que estes deixaram de ser obrigatórios para concluir o secundário.
A pandemia de covid-19 trouxe várias mudanças no ensino e uma delas foi o fim da obrigatoriedade de exames nacionais para concluir do ensino secundário: Desde 2020, os exames passaram a ser exigidos apenas aos alunos que pretendem candidatar-se ao ensino superior.
A alteração levou a que menos estudantes realizassem estas provas, em especial os mais carenciados: Apesar de 27,4 por cento dos alunos que frequentavam o secundário em 2021 pertencerem a famílias pobres, apenas 16 por cento de todos os que realizaram exames no ano passado eram beneficiários de Apoio Social Escolar (ASE).
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