Este é um projeto da Cáritas Diocesana de Beja que depois de ano e meio, no terreno, constatou que “as pessoas em situação de sem-abrigo que recorreram a esta ajuda foram mais do que o esperado”.
Foi a acompanhar a equipa de rua, na sua ronda habitual, que a Voz da Planície ouviu Filipa Duarte - que integra, e coordena, este projeto e que percorre as ruas de Beja com Diogo Santana - a dizer que “passaram por esta ajuda 400 pessoas” e que “80 ainda estão em acompanhamento, os outros encontraram pelo caminho outras respostas”, salientou, deixando claro que “tal não significa que não regressem onde sabem que podem obter o que precisam”.
A poucos dias da mudança do espaço físico do “Estou tão perto que não me vês” - que vai passar a partir de dia 8 deste mês a funcionar no edifício da Cáritas -, ou seja, ainda na antiga Casa do Estudante, em Beja, a nossa rádio falou com algumas pessoas que já não estão no projeto, mas que foram visitar a “casa” que os acolheu e ajudou. E foi neste contexto que Filipa Duarte nos apresentou o espaço “Histórias” onde, diariamente, “há 10 a 15 pessoas a fazerem atividades”.
A meio da nossa visita falámos, ainda, em inglês, com oito imigrantes, da Índia e do Paquistão, que bateram à porta da Casa do Estudante para pedirem ajuda. O porta-voz explicou que está “há sete meses sem trabalho” e que “há pouca oferta para os imigrantes destas nacionalidades”. Revelou que alguns não tinham que fazer “há pelo menos três meses”.
Procurámos saber como têm conseguido sobreviver e, mais uma vez, foi o porta-voz do grupo quem esclareceu que se têm aguentado com “a ajuda de familiares que enviam dinheiro” para suportarem os dias. Sem trabalho e sem dinheiro, e há mais de um ano em Portugal, não pensam regressar enquanto não tiverem condições para isso, frisaram.
Filipa Duarte ouviu as suas queixas e Diogo Santana levou-os ao Gabinete de Inserção Profissional (GIP) do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) a funcionar nas imediações, mais precisamente na antiga Escola Primária N.º 5 de Beja, onde estão também os serviços técnicos da autarquia bejense.
A visita da Voz da Planície não terminou aqui. Em seguida fomos com a equipa de rua do projeto, “Estou tão perto que não me vês”, ao local de Beja, confidenciaram os seus elementos, mais difícil, ao edifício abandonado da Rua Afonso III, onde já funcionou a Escola Superior de Tecnologia e Gestão, do Instituto Politécnico, e que é hoje propriedade da Cruz Vermelha Portuguesa.
Filipa Duarte revelou que “nunca se sabe o que se vai encontrar, nem o que se esperar dos que já lá estão, é sempre diferente”. Na ronda em que acompanhámos a equipa, verificámos que dormem em condições difíceis de explicar, mas que as fotografias mostram, sem-abrigo portugueses e estrangeiros. Uns porque as opções de vida os empurraram para ali. Outros, imigrantes, porque ficaram sem trabalho logo sem dinheiro para pagar as rendas das casas que habitaram.
Em Beja há muitas situações que estão perto de nós e que não vemos ou que não percebemos, devido às distrações dos dias. Os sem-abrigo, pelas mais variadas razões, já são muitos na capital de distrito e é preciso parar e ver esta dura realidade, por mais difícil que seja, assim como revelar o que está a acontecer com os que continuam invisíveis à sociedade.
“Estou tão perto que não me vês” é um projeto da Cáritas Diocesana de Beja, executado no âmbito do Programa Operacional Regional do Alentejo 2020, com o apoio do Fundo Social Europeu, segundo esta instituição.
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