A data foi estabelecida a 21 de setembro de 1994, pela Organização Mundial de Saúde e pela Federação Alzheimer’s Disease Internacional, com o objetivo de combater o estigma e chamar a atenção para esta doença e outras demências.
A Doença de Alzheimer é uma doença neuro degenerativa que deteriora de forma irreversível as funções cognitivas, sendo a forma mais comum de demência. É uma doença rara, abaixo dos 60 anos, e muito frequente depois dos 85 anos, sendo que, em Portugal, das 200 mil pessoas que sofrem de demências, cerca de 150mil sofrem de Alzheimer, revela Vasco Nogueira, coordenador da Equipa de Psiquiatria Geriátrica da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.
A idade, a hipertensão arterial, o tabagismo, a obesidade, a diabetes, entre outros, são alguns dos fatores de risco que predispõem ao aparecimento da doença.
Vasco Nogueira, que é igualmente membro da Coordenação Regional de Saúde Mental do Alentejo, responsável pelo acompanhamento do Plano Regional de Saúde para Demências, explica que a doença é uma das formas de demência que existem, que provocam declínio irreversível na capacidade cognitiva. Afeta a memória, linguagem, capacidade de orientação, e de identificar ou nomear palavras e capacidade de realizar tarefas.
A doença manifesta-se de formas diferentes, até por vezes de formas menos típicas que pode levar a confusões no diagnóstico. De qualquer modo, as características mais habituais passam pela dificuldades ao nível de memória, sobretudo para eventos recentes, “para aquilo que aconteceu na semana passada”. Identificam-se também alterações muito vincadas a nível da orientação, temporal e espacial, e dificuldades no reconhecimento da face de pessoas familiares ou próximas.
“Estes são os sintomas iniciais mais característicos e que devem fazer levantar essa hipótese de diagnóstico, e naturalmente, procurar ajuda especializada”.
Relativamente ao tratamento e acompanhamento da doença, o médico diz que a doença, como muitas outras doenças, tem sofrido algumas modificações ao nível das estratégias das autoridades de saúde, ou seja, os médicos estão a conseguir, de forma progressiva, antecipar “o momento de diagnóstico”, o que leva a um tratamento mais cedo, “começar algum tipo de prevenção, dentro daquilo que é a mudança para estilo de vida mais saudável, o controlo dos fatores de risco como diabetes, a hipertensão, o colesterol”, entre outros fatores.
A melhoria da função cognitiva através da diversificação dos estímulos, das atividades, seja ao nível cultural, de exercício, de relações interpessoais, são ações fundamentais que, não sendo propriamente o tratamento da doença, podem “prevenir ou pelo menos tornar menos grave o curso da doença”, sublinha.
Numa situação em que a doença já está instalada, “o mais importante é ser avaliado por profissionais de saúde”. O especialista refere que os médicos de família têm formação e capacidade de fazer essa identificação e referenciar para os hospitais, para consultas especializadas. Em Beja, será para a consulta de psiquiatria geriátrica.
Independentemente do protocolo de cada hospital, o importante é começar o tratamento e “um acompanhamento precoce e regular”, diz Vasco Nogueira.
“É possível atrasar e atenuar muitos dos sintomas da doença de Alzheimer”, refere, acrescentando que, ainda que os médicos não tenham condições de reverter a doença, “no sentido de a curar por completo”, é possível “transformar um doença altamente incapacitante e rapidamente progressiva numa doença com carácter mais crónico, dentro do que é possível, para permitir não só à pessoa que está doente mas também à sua família ter qualidade de vida” e desfrutar de uma vida com bem-estar e com outras atividades que “não sejam apenas o controlo especifico de sintomas”.
Vasco Nogueira fala também no peso que recai sobre os cuidadores destas pessoas com Alzheimer, que ficam expostos a um nível de exaustão e de desgaste muito significativo, “não só porque a doença e sintomas tornam difícil a gestão de pequenas atividades diárias” mas também porque sendo uma doença que afeta a capacidade cognitiva”, à medida que vai progredindo “a própria doença vai tomando conta e modificando a forma de ser da pessoa”.
Por esse motivo, “há não só uma sobrecarga física, mas há também uma sobrecarga emocional muito marcada por estes vários elementos”, para o médico isto significa que os serviços de saúde “têm de conseguir fazer mais para cuidar de quem cuida”.
“Sem cuidadores capazes, saudáveis e bem do ponto de vista físico e emocional não é possível prestar cuidados de qualidade e garantir o bem-estar das pessoas com esta doença”, frisa.
Reforça ainda que é necessário desenvolver uma rede que garanta capacidade de receber estas pessoas, em instituições como centros de dia ou estabelecimentos residenciais para idosos, tendo em vista não o “depósito” destas pessoas, mas sim, a integração das pessoas com doença de Alzheimer em grupos para os quais sejam desenvolvidas intervenções terapêuticas específicas.
Esta é uma mudança de paradigma que os médicos estão a começar a fazer e que é fundamental, o médico refere que “não podemos limitar-nos a ver as pessoas a ficarem doentes, incapacitadas, e depois pegar nelas e colocá-las num depósito”.
Vasco Nogueira acredita que é necessário fazer muito mais por estes doentes e isto passa por prestar os cuidados, diagnóstico e tratamento de forma antecipada e conseguir alargar a rede de quem cuida. Defende que se deve passar de uma rede estritamente familiar, que por si só é imprescindível, para uma oferta pública de cuidados diferenciados, mais centrados na reabilitação, socialização e na estimulação das funções cognitivas.
Sobre a segurança destes doentes, o médico psiquiatra sublinha que é uma questão fundamental, em particular na região Alentejo, que apresenta uma densidade populacional baixa, com “filhos e netos muitas vezes ausentes”.
“Temos uma quantidade muito importante de pessoas em risco de desenvolver um quadro de demência como Alzheimer que não tem cuidadores próximos, o que as expõe a um risco acrescido de quedas, de mortes acidentais por atropelamento, por se perderem e ficarem desidratadas e até em coisas mais banais, porque pensamos em situações de desaparecimento mas muitos acidentes decorrem dentro da própria casa”.
As casas têm inúmeros obstáculos que podem resultar em acidentes com estes doentes e são o principal “foco de armadilhas”. Desde tapetes, escadarias que não estejam preparadas, varandas sem proteção necessária, são obstáculos físicos importantes.
Existem também outros perigos como o acesso a detergentes, produtos perigosos, cozinhar, conduzir e a gestão da medicação. Esta última pode representar um perigo enorme para estes doentes e ter um impacto muito superior ao desaparecimento, quedas ou outros tipos de acidentes, alerta o médico. A este nível era fundamental desenvolver uma rede capaz que aposte uma formação e psicoeducação dos cuidadores, bem como uma rede que, se os cuidadores não estiverem em condições, pode garantir a correta da administração da medicação.
O objetivo é ter as pessoas num espaço seguro, no qual a pessoa desempenha tarefas, mas adaptadas à sua capacidade, garantindo deste modo que as pessoas “não ficam apenas e só condenadas a um declínio irreversível que depois determina a sua institucionalização”.
À medida que vamos avançando e alargando o tratamento para um nível mais comunitário pode ser possível desenvolver mais e melhores intervenções, para que as pessoas fiquem em sua casa, integradas na comunidade, conjugando isso com uma rede de apoio especializada que possa descolar-se ao domicilio, destaca o médico psiquiatra.
O especialista faz também um panorama da região Alentejo, que é particularmente afetada pelo envelhecimento, ou seja a prevalência vai aumentando, bem como outras formas de demência. Por tanto, o que existe hoje a nível da região é um quadro preocupante, de um aumento muito significativo de pessoas com doença de Alzheimer. Se ao nível do País cerca de 150 mil pessoas sofrem de Alzheimer, naturalmente que a distribuição é feita de acordo com faixas etárias, e "o Alentejo lidera este cenário de doença de Alzheimer”, sendo uma zona prioritária de intervenção, segundo Vasco Nogueira.
Aconselha a população para não cair no alerta exagerado, mas que deve estar atenta a dificuldades que possam surgir, observando o declínio de várias funções cognitivas, que não se centram apenas na memória. “Não estamos condenados a ver a pessoa a entrar num declínio” e considerar que “está a envelhecer não há nada a fazer”, há felizmente algo a fazer, evidencia ainda Vasco Nogueira.
Se há alterações do comportamento, da memória, da linguagem, sobretudo coisas que não eram habituais para esta pessoa antigamente, vale a pena sem dúvida comunicar ao médico de família que saberá o que fazer, há muito a fazer no sentido de melhorar bastante a qualidade de vida dos utentes e das suas famílias, conclui.
Esta semana a rubrica Uma Questão de Saúde é dedicada a esta data, oiça tudo o que médico psiquiatra assinala sobre a doença de Alzheimer. Clique aqui.
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