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Saúde

Desconhecimento sobre cuidados paliativos contribui para que não sejam prioridade em Portugal

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Desconhecimento sobre cuidados paliativos contribui para que não sejam prioridade em Portugal

O acesso a cuidados paliativos em Portugal continua a representar um dos maiores problemas para os cuidados de saúde, alerta Catarina Pazes, presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.

Neste mês assinalam-se duas datas importantes: o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, dia 8 de outubro, e o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos Pediátricos, dia 14 de outubro.

Os cuidados paliativos são “uma área especializada dentro dos cuidados de saúde, como qualquer outra”, como por exemplo os cuidados intensivos ou a obstetrícia, indica a enfermeira Catarina Pazes, responsável pela equipa de cuidados paliativos Beja + da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.

Em entrevista à Rádio Voz da Planície, a enfermeira explica que, em relação ao que esta área “faz de diferente”, é que as equipas de profissionais se dedicam “a prevenir e tratar sofrimento”, sendo “sofrimento” algo muito abrangente e multi fatorial, “muito mais complexo do que um sintoma ou doença”.

Catarina Pazes clarifica que as equipas trabalham no contexto de “pessoa com doença grave, que determina sofrimento” e que esta pessoa deve ter acesso a uma equipa especializada em tratar e prevenir esse sofrimento.

Os cuidados paliativos têm como objetivo e função tratar e prevenir sofrimento que atinge o doente, bem como a família.

São vários os mitos que surgem na sociedade sobre a área dos cuidados paliativos e, neste sentido, Catarina Pazes esclarece algumas ideias erradas sobre esta matéria.

 “Os cuidados paliativos aceleram a morte”

“É uma ideia errada que infelizmente está muito difundida” e “é nossa obrigação desvendá-la e combatê-la”. Não só porque a informação é importante, diz Catarina Pazes, mas porque “essa ideia faz com que uma parte do problema do não acesso a estes cuidados surja exatamente pelo desconhecimento”. Quando temos uma ideia de que “algo nos vai fazer mal, naturalmente que não o vamos procurar, nem o vamos aceitar quando nos é proposto”.

Outra parte do “problema de não sabermos” é que “não exigimos aquilo que precisamos ter em determinado momento” e “o facto de não pedirmos que se desenvolvam estas respostas” contribui para que “quem comanda” e “quem decide” quais são as prioridade para o País, não coloque os cuidados paliativos como uma área prioritária, porque a própria população “não os entende como prioritários”.

“Os cuidados paliativos são aconselhados quando a morte é muito próxima e são regra geral, só para doentes idosos”

“São aconselhados para qualquer pessoa que tenha uma situação de sofrimento que decorre de uma doença grave, independentemente da sua idade”, afirma Catarina Pazes.

Há inclusive profissionais que acompanham situações ainda “em útero”, no caso de gravidezes de grande risco, ou de deteção de algum tipo de má formação que exija este tipo de cuidados especializados.

“Naturalmente que nós acompanhamos doentes em fases mais avançadas no processo de doença, não acelerando a morte”, refere a enfermeira.

“Os cuidados paliativos aceitam que a morte acontece como um resultado natural de um processo de doença em fase avançada”, o que significa que “não abandonam o doente”, mas sim aumentam e reforçam os cuidados que visem a melhoria da sua qualidade de vida e bem-estar, mesmo que a doença não tenha cura.

Qualquer pessoa tem acesso ao cuidados paliativos?

Estão disponíveis em todas as áreas da organização de cuidados, ou seja, há nos cuidados de saúde primários (centros de saúde), nos hospitais e nas unidades de cuidados continuados.

Ao nível do que se passa na comunidade, as equipas comunitárias de suporte, além de fazerem as suas consultas em casa dos doentes, têm a obrigação de orientar os colegas do centro de saúde de forma a adequarem os cuidados às necessidades do doente.

Quanto ao hospital, este deve ter uma equipa intra hospitalar que se deve descolar ao sítio onde está o doente, independentemente do serviço onde esteja internado. Em Beja isto é um problema, pois o hospital da capital de distrito neste momento não tem esta resposta, alerta a enfermeira.

A Associação Portuguesa de Cuidados Continuados, no âmbito das datas assinaladas este mês “apela a uma forte participação social na exigência de mais e melhores cuidados paliativos em Portugal” e promove, até final do mês, iniciativas sob o mote “A Tua Vida Importa-nos”.

Em comunicado sublinham que “o acesso a bons cuidados paliativos garante ainda um melhor uso dos serviços de saúde, reduzindo hospitalizações e recursos inúteis aos serviços de urgência”.

A Associação reforça a ideia de que as equipas de cuidados paliativos “continuam a viver grandes problemas, não só por estarem ainda número muito insuficiente, mas fundamentalmente por não disporem dos recursos e condições para poderem garantir a resposta que a sociedade tem direito”.

Oiça a entrevista completa com a presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, na edição de Uma Questão de Saúde desta semana.


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