Apolónia Rodrigues, presidente da Associação Dark Sky Alqueva, que se dedica à área de planeamento e desenvolvimento de turismo, explica todo o processo de desenvolvimento deste projeto, até receber a primeira certificação mundial atribuída pela fundação Starlight, que conta com o apoio da Unesco, Organização Mundial de Turismo e Instituto de Astrofísica das Canárias.
A ideia nasceu em 2007 e está relacionada com o aparecimento do lago Alqueva, diz a responsável que já trabalhava na região desde 1998, no âmbito do programa Rede Europeia de Turismo de Aldeia. Notou que o aparecimento do lago suscitou interesse de grandes grupos financeiros para trabalhar a área de turismo no território Alqueva.
No entanto, refere que o turismo náutico no lago implicaria um grande investimento público e privado para que este se tornasse uma mais valia ou um destino associado a esta área turística.
“Ainda hoje em dia, não se pode dizer que há uma grande notoriedade de desenvolvimento de atividades náuticas na região, há vários polos de investimento”, dando o exemplo das estações náuticas que surgiram recentemente.
Enquanto associação, Apolónia Rodrigues diz que foi necessário refletir sobre um produto ou recurso que poderia ser diferenciador e que não implicasse grande investimento, tendo sempre em mente a sustentabilidade no desenvolvimento do território.
Na altura já se verificava um crescimento da procura de atividades associadas a observação noturna. Os turistas procuram ofertas que possam acrescentar valor ao “seu eu interior”, frisa a responsável.
Após um pré-análise da qualidade do céu e de todo um processo bastante complexo de desenvolvimento integrado no território, trabalharam no sentido de obter certificação da fundação Starligth, e contaram com seis municípios iniciais, associados ao Polo de Desenvolvimento Turismo de Alqueva.
Em 2010, conseguiram ser os primeiros do mundo a obter essa certificação porque trabalharam “não só a qualidade do céu, como também a oferta turística”.
Os serviços têm de ser adaptados às próprias atividades. Por exemplo, para quem se descola para fazer astrofografia, que é uma atividade noturna, é necessário oferecer a possibilidade de ter um “pequeno almoço tardio”.
As fases da lua e outros fenómenos também influenciam as atividades e a Associação trabalha “em igual nível de trabalho” tanto a componente técnica como as ofertas turísticas.
Reconhecido a nível nacional e internacional, este destino turístico hoje em dia já conta com áreas de dez concelhos portugueses e três espanhóis, tornando-se também o primeiro “Destino Starlight Transfronteiriço do Mundo”, provando que “o céu não tem fronteiras nem limites de qualquer tipo”.
A Fundação Starlight tem como principais objetivos “a proteção do céu noturno, a divulgação cultural da astronomia e o desenvolvimento económico sustentável através do astroturismo”. Para alcançar essas metas, foi criado o sistema internacional de Certificação Starlight, que visa promover, a nível mundial, “uma forma diferente de cuidar e defender o céu, valorizando-o como recurso necessário à vida e como património imaterial da humanidade”.
A aposta na diferenciação passa também pela vertente do mercado mais aberto possível, a nível internacional, procurando receber quem quer visitar a natureza e valoriza ofertas com valor acrescentado. O público-alvo é muito maior ao que está associado ao turismo científico.
Com diversas distinções, principalmente na área de desenvolvimento integrado e de turismo sustentável, Apolónia Rodrigues destaca que desde a certificação do sítio, a World Travel Awards atribuiu 6 estatuetas, a nível europeu e mundial.
Uma das linhas da Associação é exatamente continuar a trabalhar a responsabilidade e a sustentabilidade.
Apenas em 2016 é criado o observatório, na aldeia da Cumeada, com o apoio da Câmara de Reguengos de Monsaraz, e até lá “carregavam às costas” o material necessário para as sessões de observação noturna.
A sede nesta aldeia alentejana permitiu igualmente “aliar a missão enquanto associação” de proteção do céu noturno e lutar contra a poluição luminosa.
Apolónia Rodrigues diz que a proteção do céu noturno é viável e esta aldeia permite comprovar que mesmo estando numa pequena zona urbana, é possível ter a qualidade do céu em que se vê a via láctea a olho nu, “muito acima do mínimo para certificação”, desde que as luzes estejam devidamente alteradas.
Por esse motivo a aldeia da Cumeada foi considerada a melhor atração turística da Europa.
Outra das suas missões é conjugar “os dois mundos”, numa perspetiva de que é possível “receber muitos turistas na aldeia, sem perturbar a população”.
A aldeia da Cumeada é uma das 44 em todo o mundo nomeada de “Best Tourism Village”, algo que “ninguém imaginaria, pela sua dimensão” e por se encontrar “fora dos circuitos turísticos tradicionais”.
O que diferencia este observatório é também o facto de estar instalado numa antiga Escola Primária, fazendo deste modo a ligação à valorização do património.
Para o futuro, a presidente da Associação Dark Sky perspetiva que é necessário continuar a aumentar a oferta turística e potenciar o seu crescimento, em particular na componente da observação solar, pensado particularmente nos turistas que viajam com crianças.
Com o objetivo de agregar o céu à tradição, querem continuar a promover a conexão com empresários, de forma a realizar atividades com ligação à região, tais como as provas cegas de vinho, viagens de canoa noturna e, deste modo, dar destaque a outros produtos regionais que não estão diretamente relacionados ao céu.
Realça ainda que o envolvimento, em 2012, de Miguel Claro, astrofotógrafo oficial do Dark Sky Alqueva, foi um fator de sucesso fundamental para o crescimento do sítio, tendo em conta a dificuldade sentida por Apolónia Rodrigues em mostrar às pessoas que “acima daquela paisagem havia aquele céu”.
Apenas com a divulgação das conhecidas fotografias de Miguel Claro “as pessoas começaram a perceber o que é que era verdadeiramente o Dark Sky Alqueva”.
“Dizemos sempre que as imagens valem mais do que mil palavras, mas aqui fez a diferença ao ser capaz de mostrar aquilo que as minhas palavras diziam”, conclui Apolónia Rodrigues.
Confira abaixo as imagens captadas por Miguel Claro, astrofotógrafo oficial do Dark Sky Alqueva.
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