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Agricultura

Crise/Energia: "Criar hoje um porco alentejano é uma teimosia"

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Crise/Energia: "Criar hoje um porco alentejano é uma teimosia"

O aumento dos custos de produção, devido à seca, crise energética e guerra, domina as conversas dos agricultores e criadores pecuários presentes na Ovibeja, que dizem que só por ‘teimosia’ não desistem do setor. 

O aumento dos custos tem sido “pesado” e “basicamente criar hoje um porco alentejano é uma teimosia”, argumentou hoje à agência Lusa José Cravinho, criador de porcos de raça alentejana em Vale de Açor de Baixo, no concelho de Mértola, no distrito de Beja. 

“Já nascemos assim, teimosos, porque é que vamos acabar agora? Vamos continuando”, acrescentou, em declarações no pavilhão da pecuária da edição deste ano da feira Ovibeja, que arrancou hoje, em Beja. 

Segundo José Cravinho, que tem “uma vara de engorda com cerca de 200 porcos” e mais “40 porcas a criar”, assim como uma pequena indústria de transformação, a subida dos custos “já vem de trás”, antes da guerra na Ucrânia, sendo o conflito “um problema acrescido”. 

Antes, este agricultor gastava “70 a 80 cêntimos por dia” com cada animal e, agora, gasta “um euro por dia”, durante os “18 meses” em que tem de “tratar de cada animal”. 

Do mesmo se queixa, a alguns metros de distância, Nuno Carvalho, de 43 anos, que possui 80 ovelhas merino preto e 20 merino branco em Santana da Serra, concelho de Ourique. 

“Há dois anos, a carne de borrego estava [a ser vendida] nas grandes superfícies a seis euros por quilo e, hoje, está a custar sete ou oito. Mas um quilo de ração custava 320 euros e agora custa 520 a 550 euros”, exemplifica. 

Na zona onde tem a sua atividade, marcada por “solos pobres”, existem “muitos teimosos”. Só que “os últimos dois anos têm acabado com muitos teimosos”, por vários fatores. 

A seca, com que os agricultores se debatem “desde 2017”, é um dos problemas e “a subida dos custos de produção vem acabar com o resto”. 

“E não se podem refletir estes aumentos no preço do produto, porque o consumidor não tem poder de compra”, disse, frisando que, no caso dos ovinos, “ainda é a exportação que está a salvar o setor”. 

O ‘peso’ destes aumentos e as críticas e preocupações que geram é transversal à dimensão dos agricultores presentes na Ovibeja. 

Segundo Clara Moura Guedes, administradora do Monte do Pasto, um dos maiores produtores de bovinos da Península Ibérica, com cerca de 30 mil animais por ano, nos concelhos de Cuba e Alvito (Beja), o impacto “tem sido muito significativo”. 

“Viemos de uma situação de pandemia, que já foi uma disrupção enorme, mas à qual reagimos de maneira muito positiva, e agora este segundo embate”, devido à guerra, “tem muito impacto” frisou à Lusa, referindo que a empresa sofreu aumentos “na ordem dos 30%”. 

E não se trata só dos custos das matérias-primas. São também gastos, por exemplo, com a energia, os transportes e até a exportação, sobretudo numa empresa que exporta quase tudo, com Israel como principal destino, mas com carne enviada também para Macau e Hong Kong: “O tempo que os navios demoram aumentou. Antes demoravam, 30 a 35 dias, agora demoram 70 e a um custo cinco vezes maior”, disse a administradora. 

Clara Moura Guedes realça que, apesar das dificuldades, o setor agrícola e pecuário “é muito resiliente”. 

O criador de ovinos Nuno Carvalho sublinha esta característica: “Eu ainda vou continuar a ser teimoso mais uns anos, mas vou reduzir o meu efetivo animal. Se é para perder dinheiro, que se perca o menos possível”. 


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