De acordo com o relatório, foram realizados dois contactos com as dioceses, em momentos diferentes, sendo que, de Beja, não houve qualquer resposta. D. João Marcos, Bispo de Beja, em declarações à RTP 1, ainda na quarta-feira. dia 15 de fevereiro, mostrou-se surpreendido, referindo que respondeu por duas vezes, identificando mais quatro casos, perfazendo então nove os casos de abuso no distrito. O Bispo de Beja acrescenta ainda que não foi ouvido pessoalmente por motivos de saúde.
Nesta quinta-feira, dia 16, e em resposta escrita a questões colocadas pela Rádio Observador, o Bispo afirma ter-se esquecido de responder. Num segundo momento, afirma, terá facultado o acesso da equipa de investigadores aos arquivos.
Nas conclusões deste relatório, pode ler-se que “as situações de abuso ocorreram em todos os distritos do território nacional, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. (...) A dispersão das situações de abuso é mais elevada e concentra-se menos no litoral e existem manchas específicas, sobretudo em certas décadas, que correspondem a exatas localizações de algumas estruturas como a de seminários ali existentes à época. (...) O distrito de Lisboa concentra o maior número de casos (120). Seguem-se os distritos do Porto (64 casos) e de Braga (55 casos). (...) Os distritos de Beja (5 casos), Portalegre e Faro (2 casos cada) completam a lista”.
Nas notas finais do relatório estão escritas conclusões chocantes à luz do século XXI. É referido que “os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica portuguesa existiram no passado e existem ainda no presente. (...) Muitas daquelas pessoas abusadoras, que assim foram referenciadas, ainda permanecem em atividade eclesiástica”. Por outro lado, refere “sistémica foi, isso sim, a ocultação, pelos próprios [abusadores] desde logo, e pelos outros membros [da estrutura eclesiástica] superiormente colocados na hierarquia que deles tiveram conhecimento e não os valorizaram, não sinalizaram ou reprimiram de uma forma adequada à verdadeira proteção da vítima. Foi dada prioridade à defesa da reputação institucional da própria Igreja em detrimento da empatia com a voz, o sofrimento e a credibilidade da vítima”.
De salientar que a comissão, cujo trabalho termina com a apresentação pública deste relatório, foi coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, e era ainda composta por Álvaro Laborinho Lúcio, Ana Nunes de Almeida, Catarina Vasconcelos, Daniel Sampaio e Filipa Tavares. Esta comissão foi constituída depois de um convite, no final de 2021, por parte de D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
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