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Cancro da Mama: lidar com a doença de forma positiva pode ajudar prognóstico

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Cancro da Mama: lidar com a doença de forma positiva pode ajudar prognóstico

Hoje ouvimos a psiquiatra Lúcia Monteiro, diretora do serviço de psiquiatria do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, sobre viver com cancro da mama: adaptação saudável, sobrevivência e reabilitação.

“Uma em cada 10 mulheres portuguesas virão a ter cancro de mama ao longo da sua vida” começa por referir Lúcia Monteiro. Esta é uma doença com grande incidência, com imensas consequências ao nível psicológico, físico, relacional e comunitário, e “tem uma repercussão muito significativa nas várias dimensões na vida destas mulheres e das suas famílias”.

“Há imensa coisa que pode dizer” como psiquiatra que trabalha no IPO em Lisboa, como sexologista e também como coordenadora da clínica de oncosexologia.

Um dado importante que destaca desde logo é a sobrevivência. “Apesar de ser uma doença com grande incidência na mulher”, é também um cancro que “têm imensa sobrevivência” e, felizmente, “cada vez há menos mortalidade com cancro na mama, sobretudo quanto é diagnosticado em fase precoce e não existem outros fatores de risco”, como outras comorbilidades.

Esta talvez é a “boa notícia”, sublinha Lúcia Monteiro. “É sempre mau ter um cancro da mama, em qualquer idade, sobretudo numa mulher jovem, pré-menopáusica, mas se for bem tratada, se tiver acesso a bons cuidados de saúde, se não tiver outros fatores de risco, a probabilidade de sobreviver longamente (5, 10, 15 anos), é enorme”, é cerca de 80% de probabilidade de sobrevivência a longo prazo, realça a médica.

Em relação ao processo da doença, este é longo, pode durar o resto da vida da doente. A fase de diagnóstico desencandeia um processo de grande ansiedade até chegar à consulta hospitalar. Lúcia Monteiro lembra que existem ainda grandes assimetrias regionais e que os profissionais sabem que é difícil, em particular fora dos grandes centros urbanos, o acesso a uma unidade hospitalar de oncologia de qualidade.

Até confirmação do diagnóstico o percurso traz muita ansiedade, “com grande potencial de patologia e descompensação”. Quando há confirmação do diagnóstico é necessário saber que tipo de cancro é, que tipo de intervenções e tratamentos serão necessários e todo este processo de definição de plano terapêutico causa também muita ansiedade no utente. Aqui é fundamental “a comunicação da equipa” com a doente e sua família, para que saiba o que se está a passar, explicar as decisões relativas ao tratamento, e sempre de acordo com a literacia de cada pessoa.

Como psiquiatra, Lúcia Monteiro salienta que existem falhas nesta comunicação. As pessoas vão tão alarmadas para estas consultas, quando têm notícia que de facto têm um cancro, e ficam tão angustiadas que “esta emoção perturba a capacidade de compreensão”. Na mesma consulta, por vezes, “a pessoa não tem capacidade para ouvir o que o médico está a dizer”, “ouve mas não retém”. Nestes casos é boa prática das equipas oncológicas perceber essa perturbação, interromper a consulta e remarcar nos dias seguintes para dar tempo à pessoa de processar a informação.

É obrigação dos técnicos de saúde “detetar níveis de perturbação emocional, de risco, impeditivos de uma boa compreensão do plano [terapêutico]”.

Outro aspeto importante identificado pela médica especialista é que cada pessoa tem uma “forma de lidar com adversidade” diferente. Há quem pense de forma mais positiva ou negativa e, neste sentido, a forma como lida com a doença irá ter impacto no processo de tratamento, bem como na evolução da doença.

Pessoas que lidam com o cancro da mama com uma postura negativa são geralmente referenciadas para a consulta de psiquiatria. A médica explica que são pessoas que sofrem muito mais durante o processo da doença.

Está em estudo, mas cada vez tem mais evidência, que “estar permanentemente ansioso, angustiado e deprimido nesta doença acaba por agravar o prognóstico do próprio cancro”. Por vezes, as pessoas assumem uma série de comportamentos de risco que vão “prejudicar a própria evolução da doença oncológica”, refere Lúcia Monteiro.

Num outro nível, que cada vez é mais óbvio ao nível da investigação, há uma depressão da própria imunidade que pode favorecer a recaída da doença. O copying negativo traz diferentes consequências para o doente, seja a nível mais óbvio, de sofrer mais com o processo, quer na adoção de estilos de vida desadequados e que não são favoráveis a uma boa evolução do cancro, quer a um nível mais psicoimunológico que tem impacto nas defesas e que acaba por favorecer a recaída da doença, como já referido.

Por outro lado, quem lida com a doença com uma atitude positiva “passa melhor pelo processo da doença, com menos sofrimento, mais saúde, melhor adaptação e até, com melhor prognóstico”, sublinha.

Neste sentido, é importante ter técnicos de saúde mental, ou equipas de oncologia multidisciplinares treinadas para a deteção precoce de ansiedade patológica, que deve ser sinalizada, e as pessoas devem ser monitorizadas por terem maior risco de descompensação. A médica psiquiatra identifica que nesta área há ainda lacunas para colmatar nos serviços de saúde portugueses, principalmente fora de Lisboa e Porto.

As pessoas “saem” da luta contra o cancro diferentes, há uma modificação existencial, e esta pode ser negativa ou positiva. Porém, a médica destaca que há mulheres, verdadeiras heroínas, que “ficam melhores depois do cancro”, no sentido em que, apesar de todo o processo doloroso, passam a valorizar mais o seu corpo, os momentos com a família e amigos, e olham para a vida com um atitude mais positiva.

Oiça a entrevista completa com a médica Lúcia Monteiro, na última edição de Uma Questão de Saúde. Clique aqui.

Ainda no âmbito do mês de prevenção do cancro da mama (Outubro Rosa) lembramos que há sinais a que as pessoas devem estar atentas e no caso de se detetar um deles deve consultar o seu medico assistente: qualquer alteração do aspeto, da forma ou da palpação da mama; aparecimento de nódulos ou tumefações na mama ou axilas; alterações no mamilo como retração ou corrimento e alterações da pele da mama, aréola ou mamilo.

Em relação ao rastreio do cancro da mama, a Direção Geral de Saúde recomenda a realização de uma mamografia a cada 2 anos em mulheres com idades compreendidas entre os 50 e os 69 anos.

É aconselhado que todas as mulheres façam regularmente, pelo menos uma vez por mês, um auto-exame da mama para perceber se têm nódulos ou outras alterações. A vigilância que leva à deteção e diagnóstico precoce é fundamental no que diz respeito ao tratamento da doença e prognóstico.


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