De acordo com o estudo divulgado, o consumo excessivo de álcool vai ter impacto na saúde e na esperança média de vida. Nos próximos 30 anos, estima-se que os portugueses vejam a esperança média de vida reduzida em um ano, “devido a doenças e lesões provocadas pelo consumo diário” de mais de uma bebida por dia, no caso das mulheres, e mais de uma bebida e meia por dia, no caso dos homens.
Portugal é um país que apresenta um dos índices mais elevados de consumo de bebidas alcoólicas. Relativamente ao Alentejo, Virgínia Santos, coordenadora do Centro de Repostas Integradas (CRI) do Baixo Alentejo e responsável de tratamento da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD), afirma que é uma das regiões que apresenta o maior número de consumidores de álcool de risco.
Há consumidores de baixo risco, risco moderado, alto risco, consumo nocivo e por último de dependência, explica a médica que se dedica a esta área.
“A partir do consumo de risco é natural que comecem a aparecer situações de gravidade ligadas a doenças desencadeadas pelo álcool”, tais como acidentes rodoviários, acidentes de trabalho, perturbações mentais, ou outras situações que colocam em causa a vida e o bem-estar das pessoas.
“Associado ao álcool, temos uma morbilidade grande e mortalidade também”. Ao nível de números, referindo-se a dados de 2019, estiveram em tratamento 14 mil utentes nesse ano, a nível nacional. A nível regional esse número foi, em média, de 2 mil utentes. Devido à pandemia ainda não foram divulgados dados mais recentes, explica Virgínia Santos.
Estes utentes são grande parte do sexo masculino, com idades compreendidas entre 45 e 54 anos. No entanto, destaca que a partir dos 54 anos, os utentes procuram tratamento. “São pessoas com habilitações literárias baixas, situações laborais precárias e habitualmente casados ou a viver em união de facto”, caracteriza a coordenadora do CRI.
“Só bebo socialmente” ou “duas cervejas por dia não criam dependência”
Virgínia Santos, explica que, ainda que um indivíduo não beba álcool diariamente, mas ao fim-de-semana “bebe até cair” e chega ao um estado de embriaguez severa, isto não quer dizer que a pessoa não esteja a desenvolver um problema de dependência. “A vida da pessoa gira em volta do dia em que este consumo vai acontecer”, esta é uma situação cada vez mais frequentemente e que se está a agravar, em particular na população mais nova. Trata-se de um comportamento de dependência, assim como consumir uma ou duas cervejas por dia, pode tornar-se uma dependência, se a vida da pessoa estiver focada nessa altura do dia.
Ainda sobre os jovens, já em 2020, foram divulgados dados de um estudo feito pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, que indicam que no que diz respeito ao consumo precoce de álcool aos 13 anos, Portugal fica "consideravelmente" acima da média europeia: 42% dos rapazes dizem que beberam pela primeira vez com essa idade, percentagem que desce para 39% entre as raparigas.
Sublinha igualmente que este tipo de consumos podem associar-se ao consumo de outras substâncias ilícitas, podem levar à violência doméstica ou a outras ações perigosas.
O consumo de álcool é associado às Benzodiazepinas, medicamentos facilmente adquiridos, “passados de animo leve” nas farmácias. Quando ingeridos com álcool podem levar a situações gravíssimas, alerta Virgínia Santos. Tanto o álcool como medicamentos deste tipo “compram-se ali na esquina”, e apesar de não ser “ilegal”, o consumidor está a causar graves danos à sua saúde e a terceiros também, alerta.
Sobre a pandemia, diz que se verificou um aumento no consumo diário de álcool, quando as pessoas estavam em casa, assim como quando puderam voltar a sair e conviver socialmente.
A quem pode recorrer um indivíduo com este tipo de problemas? Pode falar com o seu médico de família, bem como recorrer ao Centro de Respostas Integradas do Baixo Alentejo. Para a população mais jovem, há ainda a possibilidade de marcar consultas de prevenção dirigida. Há jovens que começam a beber muito precocemente e esta é uma consulta que pode ajudar os pais e as crianças a lidar com a situação e evitar uma situação de dependência no futuro.
Oiça toda a conversa com Virgínia Santos na rubrica Uma Questão de Saúde.
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