O amola-tesouras era aquele que ia de terra em terra, pelas ruas e ruelas das vilas e aldeias de Portugal, amolando tesouras, facas e navalhas, concertando guarda-chuvas e executando outros pequenos trabalhos. Isto num tempo em que os objetos ainda não se atiravam fora com a normalidade que é usual nos nossos dias.
A sua chegada aos povoados era anunciada pela música característica de uma flauta de pan, um pífaro ou de uma gaita de boca. Era o amola-tesouras, um trabalhador ambulante que os tempos modernos condenaram ao desemprego e ao esquecimento.
Mas afinal ainda há amola-tesouras! E a Voz da Planície encontrou um em Beja, na passada segunda-feira, dia 10, a procurar objetos para afiar, e reparar, nas ruas vazias da cidade, no dia a seguir à celebração da Páscoa.
E porque a recordação perdura, não resistimos a falar com José Lourenço, com 30 anos de idade, que anda a cumprir a tradição familiar - que começou com o Bisavô e que acatou como sua desde os 18 anos de idade - de ter como forma de ganhar a vida ser amola-tesouras. Queixou-se do negócio, da falta de outras oportunidades de trabalho e dos muitos quilómetros que faz para sustentar a família. Tem uma filha com 6 anos de idade e não quer para ela esta profissão, que diz ser só para homens e que os seus irmãos também têm.
O ofício pode ter caído em desuso, mas José Lourenço persiste e confessou que transporta a sua bicicleta, no final do dia de trabalho, através de autocarro ou comboio.
Amola-tesouras já são poucos, contudo, o ditado de que quando o pífaro toca anuncia chuva ainda se ouve. José Lourenço garantiu, à nossa rádio, que isso não passa de um mito.
Nas grandes cidades já não é costume ver amola-tesouras. E no caso da chuva, o velho ditado não se cumpriu pois o sol continua a raiar, assim como o excesso de calor fora de época que está a deixar as terras, a Sul do Tejo, em seca severa.
O aumento do custo de vida tem agravado as condições da maior parte da população portuguesa e neste caso, desejando que esta profissão não desapareça de um todo, José Lourenço, o amola-tesouras de Portalegre que encontrámos em Beja, vai caminhando, como sublinhou, uns dias melhor, outros pior.
Esta semana não choveu, mas o amola-tesouras passou e a esperança de que a primavera traga a água desejada também. E depois ficávamos a ver a bicicleta a afastar-se ao som do pífaro que anuncia melhores tempos. Esperamos nós...
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