“Nós não vamos partir nada, não vamos voltar camiões, não vamos agredir ninguém. Nós estamos aqui por nós, pelas nossas famílias, pela nossa sobrevivência”, disse à agência Lusa António João Veríssimo, um dos porta-vozes do movimento promotor dos protestos de hoje pelo país.
À saída de Vila Verde de Ficalho em direção a Espanha, também onde se encontram alguns veículos e elementos da GNR, estão estacionados no meio da estrada, atravessados, os primeiros tratores.
É também aí que se concentra o primeiro grupo de agricultores, numa zona lateral, de terra batida, junto de um lume forte, com enchidos para preparar no fogo, sumo e até uma garrafa de vinho.
No escuro da madrugada, à medida que se vai andando, constatou a Lusa no local, vão surgindo, em filas sucessivas e desencontrados, tratores, outras máquinas agrícolas e até camiões com reboques, todos atravessados.
No final, por volta das 06h15, dezenas de agricultores também estão reunidos nas imediações, uns ao pé dos tratores, outros de volta de outra fogueira, a aquecerem-se, e com uma carrinha com mantimentos ao pé.
Do outro lado, na direção de Espanha para Portugal, apesar do escuro, é possível avistar diversos camiões parados, que não podem passar devido ao bloqueio.
“O nosso lugar não é nas estradas, a barricar estradas. Nós somos trabalhadores do campo, somos as pessoas que produzimos alimentos, merecemos respeito”, argumentou António João Veríssimo.
Mas, apesar de afirmar que não pretendem “prejudicar vidas, prejudicar empresas”, o agricultor defendeu que os ‘homens da terra’ tinham que tomar uma medida forte, para demonstrarem a sua insatisfação.
“Eu acho que isto é o limite. Não sei o que é que podemos fazer mais, já é quase último grito. A Política Agrícola Comum (PAC) não está a tratar bem e ser agricultor hoje é quase um risco de vida ou de morte”, afiançou.
Os agricultores estão hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul, reclamando a valorização do setor e condições justas, num protesto que deverá bloquear várias estradas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
Em causa está uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, previsto começar às 06:00.
O protesto decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.
O movimento, que se apresenta como espontâneo e apartidário, garantiu que os agricultores portugueses estão preparados para “se defenderem do ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural”.
Em França, os agricultores estão a bloquear várias estradas para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira.
O protesto também tem crescido em países como Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha ou Itália.
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