“É fundamental haver uma melhor articulação entre a escola e os serviços de saúde para, de um modo geral, para todos, trabalhar ao nível da prevenção, e naqueles jovens que efetivamente precisam de apoio mais especifico, dar uma resposta rápida", considera Tânia Gaspar, que coordena desde 2020 o Estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC/OMS), feito em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O estudo contou com a participação de 51 países. Os resultados, a que a Lusa teve acesso indicam que, em comparação com o último ano estudado em Portugal (2018), baixou a satisfação com a vida (passou de um valor médio de 7,68 para 7,50) nos jovens de 11, 13 e 15 anos, assim como a perceção de felicidade. Mais de um em cada quatro (27,2 por cento) adolescentes em idade escolar disseram sentir-se infelizes (18,3 por cento em 2018).
"Nestas idades, o impacto que tem no desenvolvimento ainda é maior. É como se eles estivessem sempre a crescer e, se se estão a desenvolver com estas dificuldades, isto vai ter um efeito ´bola de neve´ e vai acabar por afetar as suas oportunidades. O quanto antes é importante dar uma resposta", explicou Tânia Gaspar.
Segundo os dados recolhidos, os sintomas físicos e psicológicos também aumentaram: 12,2 por cento dos estudantes disseram ter dores nas costas quase todos os dias (8,6 por cento e 2018) e 8 por cento têm dores de cabeça quase diariamente.
Quanto aos sintomas psicológicos, 21 por cento (13,6 por cento em 2018) disseram sentir nervosismo quase todos os dias, 15,8 por cento mau humor ou irritação quase todos os dias, 11,6 por cento tristeza quase diariamente e 9,1 por cento medo.
Os comportamentos autolesivos também aumentaram, passando de 19,6 por cento para 24,6 por cento. Dos jovens que referem já se terem magoado de propósito (autolesão), o braço continua a ser o local do corpo onde mais de magoam.
Em declarações à Lusa, Tânia Gaspar disse que o estudo deste ano foi aquele em que maiores diferenças se notaram: "Nunca notamos tanta diferença em vários indicadores", disse, explicando que os resultados deste ano acabam por ser influenciados pela pandemia, pela guerra na Ucrânia e pela recessão económica.
A especialista destacou o "agravamento global ao nível da saúde e do bem estar", sublinhando que "aumentou o número de jovens que, além de doença crónica, têm doença relacionada com o foro psicológico".
Há 17,9 por cento que referem dificuldades em adormecer todos os dias, 22,8 por cento diz que quando tem uma preocupação intensa esta "não o larga" e "não o deixa ter calma para pensar em mais nada" e mais de um em cada quatro (25,1 por cento) sentem que as suas dificuldades se acumulam de tal modo que não as conseguem ultrapassar.
Em Portugal, o primeiro destes estudos foi aplicado em 1998 e o último tinha sido em 2018. O estudo, que entre 1998 e 2019 foi coordenado pela psicóloga Margarida Gaspar de Matos, integrou este ano cerca de 6.000 questionários, em 40 agrupamentos de escolas do ensino regular (Portugal continental), num total de 452 turmas. As respostas são de alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade.
Este trabalho pretendeu estudar os estilos de vida dos adolescentes em idade escolar nos seus contextos de vida, em áreas como o apoio familiar, escola, saúde física, saúde mental e bem-estar, sono, sexualidade, alimentação, atividade física, lazer, consumo de substâncias, violência e saúde planetária.
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