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Discos, Concertos

Carlos Martins apresenta "Vagar" no CCB

Carlos Martins apresenta "Vagar" no CCB

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O saxofonista e compositor Carlos Martins surpreende com uma abordagem que junta, pela primeira vez na história da nossa cultura, Cante Alentejano e sonoridades do Mediterrâneo através de novas composições e improvisações. "Vagar" é um trabalho que resulta da colaboração com o escritor José Luís Peixoto, o fotógrafo José Manuel Rodrigues (Prémio Pessoa) e os cantadores Hugo Bentes e Pedro Calado. Estes artistas, todos alentejanos, pensaram em conjunto no que é ser alentejano no mundo de hoje, transpondo para a música, as palavras e as imagens uma abordagem contemporânea do Cante. "Vagar" é apresentado esta noite, às 21h, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa

Foto: José Manuel Rodrigues

fotos: José Manuel Rodrigues / vídeo: João Pedro Moreira / DR

Nas palavras de Carlos Martins, "'Vagar' é um manifesto pela desaceleração. É um gesto para a preservação e reinvenção do Cante. O Cante está vivo neste disco porque estão vivas as suas raízes nas vozes dos cantadores. Se silenciássemos os instrumentos poderíamos escutar o Cante e reconhecer as formas tradicionais com as quais estamos familiarizados. Essa foi a condição para que os cantadores cantassem em Vagar, como uma fronteira habitável que íamos explorando, aprofundando e alargando a cada encontro, até deixar de ser fronteira e passar a território comum. Soubemos escutar-nos mutuamente e chegar “lá além”. A cultura mediterrânica, nas suas variadas expressões, de onde o Cante e uma certa forma europeia de improvisar certamente derivam, teve aqui um papel fulcral ao inspirar as estruturas musicais, células a partir das quais a escrita instrumental fluiu juntamente com as vozes. Em Vagar o nosso segredo foi o de manter o alvoroço inicial com o silêncio a vigiar o clamor do Sol ou a veemência da cal até que toda a luz se azula, “mal abala o dia”, nesse lugar sagrado que é o Alentejo."

José Luís Peixoto também descreve na perfeição o sentimento que transborda neste disco, dizendo que "nascemos no interior desta paisagem, desta pronúncia, deste tempo. A terra tem uma voz, somos capazes de escutá-la. Os sobreiros, sob o peso da sua idade, têm uma voz. Os mortos, gerações encadeadas, têm uma voz. Somos capazes de distinguir todas essas vozes, são levadas pela aragem que também arrasta o silêncio. Mas andámos por outros lugares, fomos lá longe, cruzámos o horizonte. Atravessámos a planície e, depois, atravessámos o mar. Levámos o que tínhamos aprendido aqui, mas não rejeitámos o que tinham para ensinar-nos lá. E regressámos. Vemos o mundo pelo filtro do Alentejo e vemos o Alentejo pelo filtro do mundo. Somos um coro de sons-palavras-imagens, temos uso para a sabedoria ancestral e para o agora do improviso, do instinto. Sabemos que o mar continua a planície, e vice-versa, um não existe sem o outro, são a mesma coisa."

"Vagar" é apresentado esta noite, às 21h, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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